A tecnologia e as redes sociais invadiram a nossa vida, mudaram drasticamente a forma de nos relacionarmos connosco e com os outros e vieram para ficar. Já não lhes conseguimos fugir, por muito que tentemos.
Estas representam para muitos, em particular para os mais jovens, cuja maturidade ainda se encontra em processo evolutivo e a personalidade ainda se encontra em formação, uma extensão de nós mesmos. A distinção entre real e virtual é ténue. Para os jovens existe apenas “um mundo” onde o que é vivido online é visto como real, como uma extensão da vida física, existindo uma diminuta capacidade para discernir sobre o assunto e compreender que, aquilo que acontece em muitas destas plataformas, seja bom, seja mau, talvez não ocupe o lugar que muitos jovens acreditam que tenha.
O uso intensivo das redes sociais por menores de idade será sempre prejudicial, como qualquer outra coisa. As consequências passam sobretudo pelo alheamento face ao mundo físico, a socialização exclusiva apenas através do online, a criação de uma imagem dos outros e do mundo distorcida (lembremo-nos que nestas redes é tudo bonito), a criação de uma autoimagem fundamentada no feedback online, um descentrar de outros projetos e objetivos. No entanto, e como tudo, tem certos pontos positivos, estes prendendo-se sobretudo com as questões da proximidade e de alguma socialização que as redes nos permitem e que foram muito importantes em tempo de pandemia.
Talvez nos perguntemos as razões pelas quais as redes sociais são “tão importantes” para os jovens, o que os cativa tanto. As redes sociais são hoje vistas como uma extensão da vida física, já não existe uma distinção entre o online e o físico, com a agravante de que tudo é rápido, de que a mensagem é passada em segundos e o feedback é automático. A gratificação é imediata. A beleza, o “estar sempre tudo bem”, o ser uma montra fácil para o ego, a fama e a validação imediata através dos comentários ou likes são os principais fatores. A popularidade é medida desta forma, e o estatuto é alcançado através dela.
Tem-se ainda criado uma ilusão em torno do alcançar fácil da fama, do poder e até do dinheiro de uma forma fácil. Iludidos e pouco experientes, estes jovens acreditam que basta ter uma conta nas redes, fazer umas coisas “engraçadas” e ter seguidores, será suficiente para lhes trazer sucesso. Alheados da dureza do mundo real, do mercado de trabalho, das derrotas que o sucesso acarreta. Alimentados por um elogio robótico que alguém escreve ou derrubados por um comentário negativo de quem nem os conhece. Estes comentários online influenciam tanto ou mais como aqueles que são feitos pessoalmente. Por vezes pode ter um impacto ainda maior, pela exposição pública que muitas vezes acontece. Ser maltratado nas redes, com milhares de pessoas a ver tem um efeito devastador. Tanto os positivos como os negativos vão contribuindo para uma imagem de si mesmos distorcida. Seja um ego aumentado e narcísico, seja um ego diminuído e uma perceção de si mesmo como inferir ou menos válido. No fundo, estes jovens procuram a validação e o amor dos outros através destas redes. É como se fosse um termómetro do nosso valor. Percebemos por aqui o perigo eminente em que estes jovens ficam. Isto ditará a forma como se relacionam com os outros no mundo físico, como lidarão com a frustração quando algo não for alcançado, como lidarão com o confronto com o valor ou falha do outro.
Tendo isto em conta, e a forma como as redes sociais afetam o dia-a-dia dos jovens hoje em dia, não podemos deixar de falar do papel dos pais nesta questão. É muito importante que os pais ajudem estas crianças e jovens a distinguir a vida online da vida física. O online não é apenas mais uma extensão das nossas vidas, não devemos interpretar cada like ou cada seguidor como algo com um significado extraordinário. Os pais devem proporcionar experiências aos seus filhos, outras vivências, preparando para o mundo real, pois é nesse que vivemos. Nunca descurar a socialização física, o passar tempo com os amigos e até o envolvimento em causas e atividades que os miúdos gostem. Devem monitorizar as redes dos seus filhos de vez em quando, preservando alguma intimidade nas conversas que têm com os amigos reais, mas estando atentos a conversas com desconhecidos. Nunca é demais lembrar que não sabemos quem está do lado de lá. Não ter medo de dizer não, de criar uma birra. Pais há só uns e quando estes se descartam do seu papel de educadores, mais ninguém o fará por eles. Terão todo o tempo para decidir quem quererão ser e onde querem estar. Até lá, não nos esqueçamos que são apenas crianças em formação que ainda não estão preparadas para lidar com os desafios dessa exposição.
Sabemos também que as redes sociais podem ser efémeras. A história já nos mostrou que em diferentes épocas, diferentes redes ou plataformas ganham visibilidade que mais adiante acabam por perder. E quando isso acontecer? Quem serão estes jovens? É importante sensibilizar para os valores do trabalho ao invés da fama, apenas pela fama. Com a maturidade suficiente, estes jovens poderão decidir quem querem ser e onde querem estar. Com essa mesma maturidade poderão lidar melhor com as consequências que daí possam advir. Por agora, são apenas crianças que precisam crescer e ser felizes num mundo real.
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