Este ano foi um ano diferente, não só para mim, mas para todos. E a forma como de repente temos vindo a ser coartados da nossa liberdade tem, cada vez mais, causado uma certa angústia. Deixamos de ter o mais elementar direito da decisão e passamos a ser geridos pela ação do Estado de forma mais ou menos clara, mais ou menos legítima. Tem sido um ano de resiliência e imprevisibilidade.
A parte boa é que para já, agosto ainda é, para muitos, sinónimo de folgar uns dias e, para quem tem oportunidade, de conseguir viajar até qualquer lado. Assim sendo, este ano desafiei o Tiago a conhecermos a Costa Vicentina, ao contrário de irmos para um outro paraíso fora de Portugal, sob pena de, a qualquer altura, as coisas mudarem e podermos ficar retidos (na verdade, isto até podia não ser assim tão mau).
Ora, decidido isto, começamos por esboçar o nosso roteiro num papel, com todas as zonas que gostávamos de conhecer, identificando as devidas estadias que variavam entre Hotéis e Guest Houses. Admito que, não sei bem a razão, as Guest Houses, na minha cabeça, eram um tipo de acomodação que me deixavam de pé atrás, talvez por serem sinónimo de partilha, pouca privacidade e, honestamente, corresponderem a um tipo de serviço com menos condições. Bem… quão enganada andei eu estes anos todos!
Na verdade, estas Guest Houses definem-se por uma família que recebe hóspedes, com alojamento e café da manhã. Existem sim quartos partilhados, mas também quartos com casas de banho privadas. É curioso perceber que, por exemplo, nas casas de banho, passamos de um modelo estandardizado tipicamente de Hotéis, para uma experiência mais pessoal, com uma zona de arrumação muito similar à que temos em nossa casa para pertences pessoais, com gavetas e zonas de apoio para acomodar todas aquelas pequenas coisas que nunca esquecemos. Já nos quartos, encontramos um ambiente tradicional, assente em tonalidades azuis e brancas, com apontamentos associados ao surf e claramente debruçados sobre a importância do conforto. E é exatamente aqui que quero chegar. Para mim, hoje em dia, uma Guest House combina com conforto e sentimento de pertença, pois assim que chegamos a este espaço, só o facto de dormirmos numa casa com todas as comodidades de uma casa normal, de uma casa como a “nossa”, traz-nos de volta à nossa zona de conforto.
Não obstante, fora dos quartos, somos convidados a sentir o silêncio da envolvente, elemento que nos hotéis, muitas vezes, temos dificuldade em encontrar em espaços exteriores. Aqui, volto a perceber porque é que me identifico tanto com este tipo de serviço, pois nas Guest Houses consigo literalmente fugir da azáfama do dia-a-dia e ter a oportunidade de relaxar, sem barulho e num simples baloiço ou piscina, não tendo constantemente pessoas a passar por mim e a interromper estes momentos tão meus.
Claro que podemos aprofundar um pouco esta experiência, abordando as maravilhosas panquecas e iogurtes caseiros com que nos iam presenteando ao longo de todas as manhãs, acompanhadas sempre de um enorme sorriso e de uma conversa super agradável, mas aí estaríamos a fugir à essência desta crónica e a distrair-me do foco desta rubrica.
Em suma, comecei a valorizar este tipo de espaço, porque ele sublinha tudo aquilo que diariamente tenho vindo a trabalhar no âmbito de serviços, quer de restaurantes quer de hotéis – a sensação de nos sentirmos em casa. Este, na minha opinião, é o segredo e a base do meu trabalho.
Na despedida, fica a certeza que voltaremos a este sítio, fica a saudade e o agradecimento de uma experiência memorável e inesquecível… e que tão simples é!