Estas são algumas das dúvidas mais prementes de quem passa por este processo de escrever ou re-escrever o seu CV.
Como estruturar um CV
A estruturação de um documento que deve ter no máximo duas ou três páginas deveria ser simples, mas a verdade é que para muitas pessoas é a parte mais difícil, sobretudo se já tiveram várias experiências profissionais.
Existem no mercado vários formatos disponíveis, contudo, é normal, que nenhum destes seja perfeito para si, pois cada pessoa tem um sentido estético diferente, para além de um percurso pessoal e profissional distinto dos demais, e um CV deve reflectir isso.
Há, contudo, um formato que é claramente pouco adequado, o Europass ou curriculum europeu, isto apesar de ter sido aceite por vários países como o formato-tipo. Mas tem vários problemas: é difícil de ler; não é personalizado, logo não reflecte nada sobre o indivíduo; é demasiado longo apesar, de muitas vezes não ter conteúdo relevante.
Por outro lado o denominado modelo americano também não tem tudo o que é necessário, pois ao tentar contar a história da sua vida numa única página perde informação importante. Mas tem a virtude de ser sintético, objectivo e normalmente analítico, ou seja, tenta-se traduzir os resultados obtidos em percentagens de negócio e/ou crescimento.
Portanto, a estrutura mais indicada será entre estes dois modelos, não ultrapassando as tais duas ou três páginas. Um curriculum tem de contar a sua história de forma resumida, incisiva e objectiva, contendo (quase) sempre as seguintes informações:
1 – Dados pessoais: nome, contactos, nacionalidade, local de residência, link para social media (tipicamente linkedin). Por uma questão de não descriminação não deve ter fotografia, tal como, e apesar de todos os recrutadores o quererem saber, não deverá revelar idade ou data de nascimento.
2 – Resumo pessoal e profissional: descrição efectiva das características pessoais e competências que possui. Esta parte pode, no entanto, ser omitida pois faz parte do processo de avaliação dos candidatos identificá-las.
3 – Educação: Apresentar sempre o percurso académico mais relevante de forma destacada (ou em primeiro lugar), como por exemplo, MBA, doutoramento, licenciatura. Esta informação poderá ser colocada após a experiência profissional, mas por uma questão cronológica faz sentido que esteja antes. Nos casos em que o percurso educacional não seja muito relevante provavelmente a melhor opção é mesmo aparecer depois do bloco seguinte.
4 – Experiência profissional: É aconselhável começar com a actual (ou mais recente, caso esteja sem actividade profissional) pois é quase sempre a mais importante para a função a que se está a candidatar. Nesta parte é fundamental descrever as empresas onde trabalhou, sobretudo apresentando os “grandes números” – empregados, volume de facturação, escritórios, países onde estão presentes. Será ainda obrigatório descrever as suas funções, elencar as responsabilidades e apresentar, se possível, alguns dados quantitativos que revelem o seu sucesso nas diferentes funções.
Depois de escreverem o vosso CV é aconselhável testarem o mesmo junto de pessoas amigas, ou até menos conhecidas, colocando as seguintes questões após a leitura: no que consiste a minha profissão? Quais os resultados que consegui obter? Quais as competências que possuo?
Se estes leitores conseguirem responder a estas perguntas será um óptimo pronúncio para que qualquer recrutador possa fazê-lo. Para além disso estão também a validar se o CV está adequado ao anúncio a que respondem ou à função a que se candidatam, partindo do pressuposto que fizeram o trabalho de casa que passa por adequar (não manipular) o CV à empresa e posição que pretendem.
5 – Esta última parte do curriculum deve indicar interesses pessoais e outras actividades que exerça fora do âmbito da sua profissão, como por exemplo pequenos negócios que tenha desenvolvido, se lecciona, se tem algum conhecimento específico sobre alguma matéria. Também pode ser aqui que indicam países onde viveram, voluntariado praticado, desportos em que foram federados, hobbies e interesses pessoais. Atenção: caso não leiam livros, não vejam filmes ou não viagem, não coloquem como sendo hobbies, pois o recrutador pode muito bem perguntar pelo último livro que leu ou viagem que fez e isso já ter acontecido há vários anos atrás.
Este último ponto pode muito bem ser o seu ponto diferenciador, pois quando temos 100 candidatos a uma função muitos terão experiência profissional idêntica, contudo poucos são os que terão feito uma viagem de 6 meses à volta do Mundo ou ganharam um concurso de ideias ou subiram ao kilimanjaro. Estes pontos fora do comum despertam a curiosidade sobre si e revelam traços de perfil.
É verdade que condensar toda esta informação em poucas páginas e com algum cuidado estético não é fácil, mas recordo aqui algo que já escrevi: O CV é um documento de marketing sobre si, que é o produto. O CV é uma entrevista de 30 segundos…
Truques e Dicas
Depois de estruturado existem alguns pequenos truques que podem ajudar a que o seu seja mais “apetecido” que o de outros candidatos:
– Ter palavras-chave sobre a função, valores e cultura da empresa a que se candidata.
– Não mentir, confabular ou colocar informações falsas
– Ser cronológico e organizado
– Não pode ter erros ortográficos (releia o CV vários vezes)
– Adaptar o seu CV mas não manipular a informação passando, por exemplo de um expert financeiro a um comercial.
– Retirar detalhes desnecessários e resumir experiências pouco relevantes
– Ter uma versão compatível com dispositivos móveis. É muito provável que a pessoa para quem enviou o CV o leia num telemóvel ou tablet.
– Esqueça a carta de apresentação (a não ser que envie o CV por carta). No corpo do email apresente o seu objectivo com o email enviado e descreva-se sucintamente.
– Antes de enviar o seu CV tente obter uma pessoa que o possa referenciar: mesmo em sistemas que têm por base a meritocracia, estudos indicam que 2/3 dos empregos são tomados por candidatos referenciados. Não confundir com “cunha” (pessoa sem qualificação para o lugar), simplesmente em caso de experiências idênticas optam por começar a entrevistar aqueles de quem já têm uma referência positiva.
– Pensar como recrutador: é imperativo tentar colocar-se do lado de quem recebe centenas ou milhares de CVs e imaginar o que eles estão à procura para aquela função especifica e se o CV reflecte isso. Se não for fácil identificar a sua proposta de valor passam para o CV seguinte, ou no caso de uma análise via página de Linkedin, ainda é mais fácil pois outros candidatos estão a um mero click de distância.
– Aprender ou resolver? Existe quase sempre a vontade de mencionar que quer aprender e desenvolver-se pessoal e profissionalmente, mas quem recruta está, sobretudo, focado em encontrar um candidato que execute, que resolva e que ajude a empresa a crescer. Claro que não se pode dissociar tudo isto da capacidade de aprendizagem, mas isso até é um tema interessante a explorar em ambiente de entrevista, não tanto no CV
O CV é somente uma das ferramentas que pode usar para conseguir o seu emprego de eleição. Para além de um bom CV deve ter uma comunicação coerente sobre si, ou seja, a sua pegada digital deve estar alinhada com o seu CV, de forma a criar uma marca pessoal que transmita as suas qualidades e competências. Na base de tudo deve estar uma profunda análise do mercado de trabalho, de forma a poder comparar as suas competências com as necessidades das diferentes empresas e fazer um match entre ambos. Pode ser frustrante enviar muitos emails e obter poucas respostas, por isso prepare-se, seja selectivo e claro está resiliente.
* (O autor escreveu este texto com base na ortografia antiga)