“O sexo já não é como no início… já não apetece da mesma maneira. Acho que nunca mais consigo recuperar aquele entusiasmo que tinha no princípio. Gosto dele mas, às vezes fico confusa. Será que gosto? Então porque é que não me apetece fazer amor mais vezes? Queria voltar a sentir-me como no primeiro ano da relação, voltar a ter aquele desejo todo por ele”
A Joana está numa relação há 7 anos, uma relação já considerada de longa duração (com mais de cinco anos, segundo alguns especialistas). No seu discurso mostra desalento pela perda de algo que parece irrecuperável. A Joana lamenta a perda do desejo e o desaparecimento daquela energia erótica do início. Ao mesmo tempo nota-se uma nostalgia daqueles tempos iniciais de encantamento. Ora no princípio era a paixão, esse estado abençoado que tudo permite e facilita. Nesses primeiros tempos, o desejo do outro parece uma fonte inesgotável e tudo flui com intensidade. A energia erótica está ao rubro. Mas o estado de paixão não dura para sempre, pelo contrário, tem um tempo de vida limitado. Alguns estudiosos dizem que são uns dois anos. As circunstâncias vão-se alterando, o que era desconhecido começa a ser familiar e as surpresas e novidades vão dando lugar às rotinas. E o erotismo do casal enquanto fonte alimentadora do desejo vai diminuindo. Em consequência, o desejo sexual pode perder força. É preciso uma adaptação a estas transformações. A paixão transforma-se noutra coisa, talvez menos intensa e exuberante mas igualmente boa. A intimidade consolida-se e traz segurança e apaziguamento. No entanto, esta transformação pode trazer alguns custos ao erotismo do casal. Antes de mais, é importante não ficar preso à expectativa de que o desejo sexual voltará a ser como no início e não ficar numa espera passiva de que isso virá. Não é assim, o desejo não cai do céu nem vem com o ar que respiramos. Há um certo investimento que é preciso fazer. Um exemplo? Não pensar que o companheiro(a) é totalmente conhecido e está garantido. A ideia de que o nosso parceiro está conquistado para todo o sempre pode ser uma grande falácia e não deixa espaço a outras coisas que alimentam o erotismo. A energia erótica precisa de alguma tensão, de algum frisson e de alguma novidade. O erotismo alimenta-se do mistério e da incerteza. Estímulos novos podem e devem ser criados. Por isso, é preciso colocar intencionalidade no sexo, ou seja, colocar a intenção e o querer. Por vezes é preciso mesmo planear. O comportamento de planear não é necessariamente uma ação mecânica que tira a espontaneidade, mas antes uma atitude que pressupõe uma reelaboração e criação de algo novo. Planear, não como uma obrigação na agenda mas como antecipação de uma coisa boa que se deseja. Planear pressupõe antecipar, sonhar e imaginar, e nesta medida pode ser um combustível para o desejo.
Muitos casais estão demasiado pegados um ao outro deixando pouco espaço livre entre ambos. Ou seja, mantêm um padrão de uma certa dependência um do outro, gostam das mesmas coisas, fazem tudo juntos, havendo pouca existência de um sem o outro. Há muita união, muito compromisso, muita intimidade mas pouca separação (e habitualmente pouco sexo). Ora o erotismo precisa de conexão mas de alguma separação ao mesmo tempo. Esse movimento que se assemelha a uma dança bem dançada num abraço dinâmico ora aberto ora fechado, é fundamental para o erotismo. É preciso esse espaço oxigenado para incendiar o erotismo e manter acesa a chama. O que acontece é que algumas pessoas têm pouca segurança para suportar este movimento de conexão e separação. Preferem a segurança do compromisso e o quase fusionados um no outro. São os casais com muita intimidade, um elevado grau de compromisso e pouco ou nenhum sexo.