As férias! O período mais aguardado do ano. Trabalhamos 11 meses a pensar nos 30 dias livres, tão merecidos, tão desejados, tão programados, nem que seja no sentido de nada fazer, a não ser aquilo que nos dá mais prazer. Não ter horários, poder dormir mais um pouco, passeios ao ar livre, praia, campo, vegetar no sofá, esmiuçar até à exaustão todos os canais da televisão por cabo, ler um livro, jogar, praticar o desporto favorito, resolver quebra cabeças, ir ao cinema ou ao teatro, viajar, mudar de ambiente e de rotinas. São infinitas as possibilidades. Vive-se uma espécie de euforia por antecipação, um prazer imenso em programar, organizar, delinear, pensar e repensar. É esta expectativa que nos dá ânimo para continuar, energia para levantar cedo, enfrentar as birras infantis, o caos matinal de despachar crianças sonolentas para a escola, a fila de trânsito ou os transportes públicos apinhados, o mau humor do chefe ou do colega de trabalho, almoços escassos e comidos à pressa, o regresso demorado, a azáfama de final de dia, com intermináveis tarefas domesticas e familiares. Mas a ideia daqueles dias de descanso e todas as possibilidades que podem proporcionar, são a luz ao fundo do túnel.
Infelizmente para muitos animais de estimação, a sua existência pode limitar as opções do seu tutor. E se este não for um humano responsável, rapidamente encontrará uma forma mais ou menos engenhosa de se livrar deste empecilho. Não é por acaso que o número de animais abandonados aumenta exponencialmente no período critico dos meses de Julho, Agosto e Setembro. Muitos deles foram adotados ou comprados no Natal e a sua curta existência em casa dos tutores (nem seria esta denominação que deveria utilizar, uma vez que ser tutor implica uma serie de responsabilidades, que estão aqui completamente negligenciadas) não foi o suficiente para acordar o espírito de compaixão, o sentido de proteção e o amor ao próximo, mesmo que este “próximo” seja um cão ou um gato.
Merecemos, sem a mais pequena sombra de dúvida, uma férias relaxantes e reparadoras. Mas se formos organizados, conseguimos incluir os nossos animais nestes momentos prazerosos. Se isto não for possível, haverá sempre alternativas, que não passam pela negligencia, irresponsabilidade ou abandono. Se este artigo, de alguma forma, evitar o abandono criminoso de um único animal que seja, já atingi o meu objetivo!
1 – Se possível, faça planos que incluam o seu cão, se o seu destino for território nacional . Há imenso alojamento, sobretudo em turismo rural, onde são bem vindos. Se não possui casa de férias própria, procure com algum tempo de antecedência, mas não se esqueça de avisar, aquando da reserva, que se vai fazer acompanhar pelo seu amigo peludo. Infelizmente os cães não podem frequentar as praias portuguesas, em áreas concessionadas. Portanto será mais fácil arranjar programas que incluam toda a família, se tentar regiões interiores, repletas de paisagens verdejantes convidativas para longos passeios ao ar livre. Mas se o seu cão é adepto dos deportos náuticos, tem sempre a possibilidade de o levar a banhos a uma das inúmeras barragens, lagoas ou praias fluviais. Certamente com temperatura inferior, mas em compensação com menor ondulação e correntes mais suaves (cuidado com o local escolhido, porque em algumas zonas a corrente poderá ser forte mas dissimulada), poderá nadar, brincar, escavar, mergulhar, enfim, gastar todas as energias acumuladas. Certamente, quando voltar, será o repouso do guerreiro e dormirá um sono profundo, saudavelmente reparador. Se preferir o mar salgado, a nossa costa é imensa e poderá sempre encontrar praias pouco frequentadas ou que possuam áreas não vigiadas, onde o possa levar, para passar bons momentos de brincadeira ou até de convívio com outros seus semelhantes. Cuidado com a insolação. Forneça sombra suficiente para o seu tamanho e permita-lhe arrefecer frequentemente o corpo, com banhos frios. Mantenha à sua disposição água em abundância.
2 – Se não for possível levar o cão consigo, porque vai para fora de Portugal ou o seu destino nacional não aceita animais de estimação, pondere qual a melhor solução. Se for um animal bem socializado, talvez o melhor seja um hotel para cães, ou mesmo um particular que tenha espaço e competência para ficar com alguns animais em simultâneo. Assim poderá brincar, aprender e praticar com outros a comunicação natural da espécie. Na maioria dos casos vivem isolados, sem grande possibilidade de convívio com os seus semelhantes, exceto, provavelmente, um fugaz contacto durante os passeios diários. As férias poderão ser um grande oportunidade para aprender ou adquirir algumas competências, assim como para se divertir à grande.
3 – Se o seu cão for um animal dependente e pouco à vontade com outros cães, a melhor opção será a de contratar os serviços de um pet sitting ou, em alternativa, pedir a um amigo, vizinho ou familiar que o visite pelo menos 2 vezes por dia, brinque, passei e mime, para além da alimentação e higiene. Se for possível que alguma destas pessoas se mude para a sua casa durante esse período, por forma a que o cão se sinta mais acompanhado, melhor ainda.
4 – No caso do seu animal de estimação ser um gato a melhor opção será a de o manter no seu território. Assim, se houver possibilidade, contrate os serviços de uma pet sitter, fale com um amigo ou vizinho, peça ajuda a um familiar. Este deverá visitar o gato pelo menos uma vez por dia, verificar e limpar os caixotes de areia, renovar a água e comida, brincar algum tempo com ele. Na sua ausência deve providenciar formas de o gato se manter cognitiva e fisicamente ocupado, escondendo comida todos os dias em sítios diferentes, trocando frequentemente de brinquedos, alguns deles com movimento, utilizando dispensadores de comida, que o gato precisa de movimentar para ganhar uns grãos de ração. Mais uma vez, se for um gato humano-dependente, poderá ver se um dos seus conhecidos não se importa de ficar lá em casa na sua ausência.
5 – Em alternativa poderá optar por levar o gato consigo, mas isto só fará algum sentido se vai de férias para um local habitual, onde o animal já está familiarizado com o espaço. Por vezes estes nossos amigos até gostam de estar num destino campestre, onde possam vaguear pelas redondezas, trepar árvores e caçar, coisas que muitas vezes não estão possibilitados de fazer na casa que habitam. Mas muito cuidado com as saídas em sítios novos. Dê-lhe algum tempo para se habituar ao espaço, antes de o deixar aventurar-se em território desconhecido. Só depois de alguns dias em ambiente controlado é que lhe poderá permitir iniciar a exploração gradual do exterior. E não se esqueça de, antes da partida, visitar o veterinário para solicitar o implante do microchip, porque no caso de o gato desaparecer, poderá sempre ser resgatado por alguém que o leve a uma clinica local, para fazer a leitura eletrónica de mesmo e assim chegará ao seu contacto. Mesmo assim deverá ter sempre uma coleira com um porta-identificação, que poderá adquirir numa loja da especialidade. Este método é mais visível e o retorno mais rápido, em caso de resgate. Mas havendo sempre a possibilidade de o perder, mais vale ter a identificação eletrónica, quase impossível de remover.
6 – A última alternativa será a de o colocar num hotel para gatos. Nesta espécie, de complicado relacionamento social, este deverá ser mesmo o último recurso. O alojamento deve ser individual, não permitindo o contacto visual com outro gato, ou mesmo outra espécie. É também muito importante que o ambiente esteja impregnado do odor das feromonas faciais, comercializadas em spray ou difusor.
7 – Se a decisão foi a de levar o seu companheiro consigo, ou para um hotel para animais, prepare a viagem atempadamente, por forma a não viajar no período mais quente do dia. Os gatos devem viajar na caixa de transporte bem presa com o cinto de segurança, para não oscilar muito. Convém que estejam familiarizados com a transportadora e que a reconheçam como um local onde possam esconder-se e sentir-se seguros. Para tal, esta deve estar disponível no ambiente do gato, muito antes da viagem. Os cães viajam presos com cinto de segurança próprio, ou, em alternativa, na bagageira, desde que separada do habitáculo por uma rede. Nunca coloque o cão numa bagageira fechada com tampa. Efetue paragens frequentes para deixar o cão esticar as pernas e beber água. No caso do gato, ofereça-lhe água e se a viagem for muito longa deixe-o sair da caixa, dentro do carro e com as portas bem fechadas, para utilizar o areão e espreguiçar-se um pouco. Leve alguns objetos preciosos para o seu amigo de quatro patas, como por exemplo a almofada ou o brinquedo favorito. Se o animal for muito ansioso, consulte o veterinário assistente para se aconselhar sobre alguma medicação que possa fazer para diminuir esta ansiedade, durante a viagem. Pode também utilizar as feromonas sintéticas, adaptadas à espécie, que ajudarão o animal a relaxar durante o transporte e depois no local de destino. MUITO CUIDADO com o golpe de calor. Nunca deixe o seu amigo fechado no carro, mesmo que por curtos períodos ou com o carro à sombra. O habitáculo pode atingir altas temperaturas, incompatíveis com a vida.
8 – Se viajar para fora do pais, de avião, só leve o seu animal se for para uma estadia de longa duração. Em curtas permanências, o prazer que possa disfrutar no local de destino não compensa o stress que irá sofrer neste meio de transporte, para além da burocracia relacionada com a circulação de animais de companhia entre países. Só cães de pequeno porte e gatos não muito pesados podem viajar na cabine. Os restantes terão que viajar no porão. Climatizado e pressurizado, é verdade, mas sem qualquer apoio ou conforto psicológico da simples presença de um humano familiar.
9 – Se optar por um hotel para animais, selecione antecipadamente os possíveis locais, visite-os, se possível, de surpresa, para não haver hipótese de publicitarem algo que não corresponda à realidade. Não esqueça que nos períodos críticos as reservas esgotam rapidamente. Marque com tempo, para não ficar sujeito a ter que recorrer a um qualquer local duvidoso, por ser o único que tem vagas. Agende atempadamente uma visita ao veterinário, para verificar o estado sanitário do cão ou do gato e adaptar o esquema vacinal ao facto de que irá permanecer num ambiente possivelmente contaminado com alguns vírus ou bactérias contagiosos (caso, por exemplo, a traqueobronquite infeciosa, vulgarmente conhecida como tosse de canil, no caso dos cães e da gripe felina, nos gatos). Lembre-se que as vacinas não imunizam automaticamente o animal. Todas precisam de cerca de 2 semanas para se tornarem efetivas. Leve a cama, a manta, os comedouros e os brinquedos preferidos, para minimizar os efeitos stressantes de um ambiente intimidante e odorificamente desconhecido. Leve também a alimentação habitual. Quanto menos mudanças melhor. Só mesmo as inevitáveis. No caso dos cães, leve-o a visitar o local, algum tempo antes da estadia e se possível deixe-o lá ficar a passar uma noite ou um fim de semana, para que faça uma adaptação gradual e para que possa avaliar a forma como lida com o facto de lá ficar sem os tutores.
10 – O verão é preenchido por festas populares, arraiais e comemorações várias. Muitos destes eventos são extremamente ruidosos e alguns deles incluem fogo de artifício, foguetes ou petardos. Um grande número de animais tem pânico destes ruídos. Muitos deles desaparecem em noite de encerramento destas festas. Sobretudo se estiver em território desconhecido, poderá correr sem destino e não conseguir regressar ao ponto de partida. Mantenha o cão ou o gato em casa nestes dias e não lhe permita o acesso livre ao exterior. No caso de ficar receoso ou mesmo em pânico, mantenha-se simplesmente presente e tente não se mostra igualmente ansioso. Conforte-o sem exageros e distraia a sua atenção, com uma brincadeira ou com a execução de um comando simples, como o “senta”, “deita”, “dá a pata”, etc.
Para terminar, um desejo de uma ótimas férias. E se estas incluírem todos os membros da família, ainda melhor. Servirão não só para relaxar e recarregar baterias, mas também para estreitar laços de relacionamento entre todos.
Até para o mês que vem…