Chegou o inverno e, com ele, chegam também os vírus e as dores de cabeça para os pais. As crianças adoecem, as “viroses” multiplicam-se e a paciência dos pais esgota-se, pelo que me parece que faz sentido pensar um pouco sobre este assunto.
O primeiro aspecto que importa esclarecer é o que é afinal uma “virose”. Ao contrário do que grande parte das pessoas pensa, este não é um termo utilizado apenas para rotular algo que não se sabe bem o que é. Obviamente que é uma designação pouco específica, mas “virose” significa infeção provocada por um vírus. Na maior parte das vezes é impossível esclarecer de que vírus se trata e é por esse motivo que se dá esse nome generalista.
– Mas afinal o que é um vírus?
A grande questão é mesmo essa e importa esclarecer bem este conceito. Um vírus é um microorganismo muito simples, que não tem capacidade de se multiplicar sozinho. Para o fazer, tem que invadir as nossas células e usar os seus mecanismos para poder originar mais vírus. Geralmente, nesse processo acaba por destruir essas mesmas células, o que faz com que perca a capacidade de se voltar a dividir e é precisamente por esse facto que a grande maioria das infeções víricas (ou “viroses”) se resolvem sem tratamento ao fim de 3-5 dias. É a própria multiplicação do vírus que vai fazer com que a infeção acabe…
Para além dos vírus, existem também outros tipos de microorganismos, dos quais importa salientar as bactérias. Estas são seres vivos independentes, capazes de se replicar de forma autónoma e, de um modo geral, são bastante mais invasivas para as nossas células, podendo causar a sua destruição de forma significativa e bem mais agressiva.
– Como se pode saber se é apenas uma “virose” ou algo mais grave?
Essa é a pergunta com que nós mais lidamos no nosso dia a dia e que fazemos a nós próprios sempre que vemos uma criança doente. É fundamental distinguir corretamente uma infeção vírica de uma infeção bacteriana. Geralmente as infeções víricas são mais “difusas”, com sintomas mais dispersos e que atingem diferentes órgãos (por exemplo: febre, tosse e dor de barriga, tudo o mesmo tempo). Por outro lado, as infeções bacterianas são mais localizadas, com queixas específicas e mais exuberantes.
Outra distinção (e talvez a mais importante) tem a ver com o estado geral da criança. Nas “viroses” elas ficam mais debilitadas mas, geralmente, têm um bom estado geral. Já nas infeções bacterianas há um atingimento mais frequente do estado geral das crianças e, mesmo quando baixa a febre, percebe-se que elas estão doentes.
– Como se tratam as “viroses”?
Salvo muito raras exceções não se utilizam medicamentos para matar os vírus, por dois motivos principais. O primeiro tem a ver com a limitação da própria infeção, que se resolve espontaneamente à medida que se vai desenvolvendo. O segundo tem a ver com os próprios antivíricos que existem, porque são bastante tóxicos e têm uma eficácia muito errática. Assim, o único tratamento nessas situações é apenas tentar reduzir os sintomas e as manifestações da doença, atenuando e aliviando o desconforto que provocam. Alguns exemplos podem ser a febre, dor de cabeça, diarreia ou tosse, entre outros.
É imprescindível reforçar a ideia de que os antibióticos não têm nenhuma utilidade nestes casos, porque servem apenas para matar bactérias e não para matar vírus, pelo que o seu uso é errado e completamente desaconselhado, a não ser que se suspeite de alguma complicação bacteriana.
É o tempo que cura as “viroses” e é fundamental passar esta mensagem, para evitar recursos desnecessários aos serviços de saúde, com todas as esperas e riscos de contágio que isso acarreta. O tempo e, por vezes, uma dose considerável de paciência…
Até breve!