Num cenário político agitado, os olhos estão postos nos discursos, nas decisões e nas promessas. Mas por vezes esquecemo-nos de olhar para o mais óbvio: o corpo de quem lidera.
Recentemente, vimos um líder partidário sentir-se mal em plena campanha -um episódio que, sem julgamentos nem suposições, nos faz pensar no custo de viver em alta intensidade. Já vimos isso outrora com Sousa Franco, que morreu após uma arruada caraterizada de empurrões e insultos, ou com Cavaco Silva, que desmaiou em plena ação pública. São momentos que mostram o impacto real da pressão constante, mesmo em quem está habituado a ambientes exigentes. Não é só sobre política. É sobre todos nós, que muitas vezes vivemos em modo alerta, sem dar espaço ao corpo e à mente para respirar.
Campanhas eleitorais são maratonas emocionais. A exposição constante, os horários imprevisíveis, a pressão para convencer, os debates acesos, a exigência de estar sempre em cima do acontecimento – tudo isto ativa o sistema de alerta do corpo.
O cérebro, responde como se estivessem numa situação de ameaça contínua. A tensão acumula-se. O sono altera-se. A alimentação torna-se secundária. O corpo aguenta… até deixar de aguentar.
A força também se mede no limite
Por vezes, resistir deixa de ser força e passa a ser exaustão. Não é fraqueza. É biologia. O corpo humano tem mecanismos de proteção e quando o nível de exigência ultrapassa o ponto de equilíbrio, ele fala. Com dor, com mal-estar, com sintomas vagos, mas insistentes.
Não é preciso estar numa campanha política para se reconhecer nisto. Certo? Quantos de nós vivem semanas (ou meses) em modo “campanha permanente”, sem pausa, sem descanso, sempre a responder, a provar, a resistir?
O que podemos aprender com isto?
Não sabemos o que está na origem, nem precisamos de saber para tirar daqui uma reflexão valiosa.
Ver alguém sob grande pressão a parar, mesmo que por instantes, lembra-nos que cuidar da mente e do corpo não é um luxo – é uma necessidade básica.
Se até quem está treinado para resistir à pressão pode ser surpreendido pelos limites do corpo, porque continuamos nós a ignorar os nossos próprios sinais?
A intensidade cobra sempre um preço. Parar, ouvir o corpo e respeitar os limites não é desistir. É garantir que conseguimos continuar.
Campanhas passam. Tarefas terminam. Mas a saúde… essa precisa de ficar.
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.