Defendo a tese segundo a qual a banalização do divórcio foi um motor importante para aumentar a felicidade no casamento. Tal como a união de facto produzirá um efeito ainda mais eficaz, por nem sequer ser preciso divórcio.
A teoria é simples: se o divórcio (ou a desunião) estiver na mira do horizonte, os parceiros esforçam-se mais para que tudo corra bem. A insegurança fomenta o esforço e o empenho numa relação entre duas pessoas que, todos sabemos (menos os celibatários estruturais, que falam imenso do assunto sem fazer a mínima ideia do que se trata), é algo de complexo e precisa de todas as ajudas possíveis. Por outro lado, quando o amor termina, as relações quebram-se naturalmente. O que significa o fim da relação sem amor e, consequentemente, fortalece a ideia de as relações que se mantêm terem um conteúdo com dignidade.
Esta semana, ouvi uma notícia que dizia que o Governo se prepara para aumentar os impostos às empresas que têm muitos contratos a prazo. Defendendo, deste modo, o combate à precariedade. Ora, acho que o Governo não devia combater a precariedade, para poder defender a produtividade. Porque, para mim, a teoria que desenvolvi para o casamento aplica-se, sem tirar nem pôr, à relação laboral.
Adapto, então, a minha teoria: se o afastamento (fim do contrato ou despedimento, tanto faz) estiver na mira do horizonte, quer o trabalhador abaixo na hierarquia quer o seu chefe empenham-se mais para que tudo corra bem. A insegurança fomenta o esforço num desempenho laboral que, todos sabemos (menos os que percebem que nunca serão afastados), é algo de complexo e precisa de todas as ajudas possíveis (por exemplo, muito estudo, muita actualização). Por outro lado, quando o desempenho profissional fracassa, a pessoa devia sair naturalmente. O que significaria o fim da relação profissional sem competência e, consequentemente, fortaleceria a ideia de as relações profissionais duradouras terem um conteúdo com dignidade (competência). Desta forma, a produtividade do país poderia duplicar (passando dos actuais 65% da média europeia) para os 130% dos países
«produtivos». Se tal acontecesse, acabava o déficit, a dívida, as pessoas ganhavam mais, não havia desemprego, etc..
O Expresso publicou há mais de um mês (9/4) um artigo, cujo assunto foi agora retomado na imprensa, chamado: «Geração atraiçoada». Nele relata o acréscimo de desigualdade que se tem verificado, nos últimos 20 anos em Portugal, entre os rendimentos dos mais novos e os rendimentos da média nacional.
Acho que os jovens devem saber viver na sociedade armadilhada que as gerações anteriores lhes deixaram. E não devem desistir. Mas também não devem pactuar. Aflige-me ver jovens que, por ideologia política desajustada ou por lavagem ao cérebro cultural, defendem regras sociais absurdas, como os direitos adquiridos. Deviam ser os primeiros a lutar (vão para o Marquês de Pombal outra vez, agora por uma causa a sério) pela meritocracia e igualdade de oportunidades à partida. De outra forma, de que serve estudar e ter mais qualificações se não há hipótese de substituir os que se mantêm nos «empregos», sem esforço e sem competência, pois sabem que, façam o que fizerem, vão receber o ordenado no fim do mês?
Nesta perspectiva, não percebo como os governantes deste país aceitam que os jovens não possam disputar o mercado de trabalho com as gerações anteriores. Nem no público nem no privado. Os jovens precisam de entrar e mostrar o que valem. Mas, para isso, precisam outros de sair. E, para saber quem sai, é preciso avaliação. E afastamento quando o desempenho é mau. Esta geração não foi só atraiçoada pelos que se sentaram nas cadeiras todas da sala e de lá não saem. Continua a ser atraiçoada pelos que defendem o «trabalho para a vida». E recusam a avaliação. E recusam a precariedade absolutamente necessária para se criar a insegurança por sua vez necessária para a melhoria constante do desempenho e da produtividade. A precariedade de que falo é não existir «emprego», mas «trabalho». E as pessoas saírem por má avaliação. Não esta fantochada que agora existe: os jovens entram no privado (no público, nem sequer podem entrar) para trabalhar um ano já sabendo que depois vão sair. Não por falta de competência, mas porque as empresas não querem mais «trabalhadores do quadro».
Em Portugal, não chega haver desigualdade de oportunidades em função do meio social do nascimento. Há também desigualdade de oportunidades em função da data de nascimento.