A minha rua é um bom barómetro das férias dos outros. Percorrida por quem acede à autoestrada de Cascais, é também uma via importante para os que demandam a praia de Carcavelos. Se durante os dias úteis é usada sobretudo por quem trabalha em Lisboa e se desloca de carro para a capital, aos fins-de-semana e nos meses estivais é uma das artérias principais de quem procura um recanto do areal.
Este ano, a Câmara Municipal de Cascais passou a cobrar o estacionamento nos parques junto à praia. Deve ser uma importante fonte de receita para a autarquia mas não acabou com o estacionamento selvagem na orla da praia, que até se intensificou, pois muitos condutores querem evitar a cobrança dos tickets. Durante este período, bem cedinho, quando a costumo visitar, já está a praia cheia de carros e de veraneantes arrepiados. Por essa razão, evito-a durante os meses de verão.
As férias dos outros não prejudicam as minhas mas estorvam muito o meu dia-a-dia. Não vou correr na praia. Cancelo os habituais exercícios à beira mar. Evito a esplanada onde durante o resto do ano costumo tomar café porque está demasiado cheia de gente atrapalhada e a atrapalhar.
Talvez a CP pudesse cobrar menos pelos bilhetes: é mais barato duas pessoas virem de Lisboa para a praia de carro, pela Marginal, do que de comboio. Talvez a companhia ferroviária devesse aumentar a frequência dos comboios durante a estação, evitando o uso de automóvel. E se a autarquia ousasse promover as ciclovias (a que há é uma anedota, com pouco mais de 500 metros sem ligação a nada) e lugares de estacionamento para bicicletas? Talvez Carcavelos pudesse ser uma boa praia, mesmo no verão, cheia de gente mas ordenada, sem a confusão que a distingue nesta época.
Eu faço férias noutras alturas do ano. Evito o verão, porque é mais caro viajar, porque os locais que desejo visitar estão cheios de gente, porque a minha vida meio nómada me permite escolher outras estações do ano. Por outro lado, as minhas férias não são muito convencionais porque não acredito muito no conceito de férias. O período de descanso anual de que usufruo é entendido desde sempre como uma oportunidade para fazer mais daquilo de que gosto e que já faço. Este ano, usei-as para escrever um livro e só uma gripe inesperada as prejudicou. Mas quando as uso para descobrir uma cidade que desconheço, quando as aproveito para atravessar uma montanha, quando as escolho para pintar as paredes de casa, quando as tiro apenas para explorar um trecho de costa que nunca percorri, não faço mais do que no resto do ano: trabalhar, conhecer, viver.
É precisamente aquilo em que se torna Carcavelos, no verão: um obstáculo à vida.