Um enxame, pensei. Um enxame de abelhas de fogo. Não. Não um enxame. A noite era de tal forma translúcida que as estrelas se destacavam, uma por uma, como escaravelhos dourados (Carabus auratus) pregados com finíssimos alfinetes sobre uma manta de veludo negro.
Estendido na areia da praia, senti-me tomado por uma espécie de embriaguez. Apercebi-me de que não era apenas um fragmento da imensidão: era a própria imensidão. Ou talvez estivesse realmente bêbado. Não devia ter tomado a terceira caipirinha, pois raramente bebo álcool e dois goles de bom vinho já me deixam bastante alegre. Estava pois empenhado em distinguir se aquilo que sentia era um legítimo arrebatamento místico ‒ o nirvana! ‒ ou uma prosaica bebedeira, quando um homem se atravessou entre mim e o universo.