Em 1846, Portugal está, outra vez, a “ferro e fogo”, ou seja, envolvido numa guerra civil. Primeiro foi a revolta da Maria da Fonte, assim chamada porque as mulheres tiveram nela um importante papel e porque começou na freguesia de Fonte Arcada, concelho da Póvoa de Lanhoso. O pretexto, se assim se pode dizer, para o levantamento popular foi a proibição, a nível nacional, dos enterramentos no interior das igrejas. O povo não aceitou de boa mente a ideia de que um cristão fosse enterrado num ermo ou à beira de um caminho.
Os políticos (leia-se, a oposição setembrista), descontentes com a situação que então se vivia no país – onde é que eu já vi isto? –, aproveitaram o descontentamento popular e juntaram-se ao povo e a revolta tomou outro nome: a Patuleia, palavra que alguns historiadores conotaram com a expressão pata au léu, o que não é verdade. Patuleia deriva da palavra espanhola patulea, que significa “sem rei nem roque”, isto é, tropa fandanga ou indisciplinada.
Compreende-se aquela designação se tivermos em conta que, de um lado e do outro, se fizeram recrutamentos apressados, em alguns casos forçados. Daí haver alguns relatos em que se fala da falta de entusiasmo com que os soldados combatiam, fosse de que lado fosse, e das fugas de soldados de um lado para o outro e que aconteciam, muitas vezes, durante os combates.
No Porto chegou a criar-se um governo provisório e estava prevista uma marcha sobre Lisboa. Neste entretanto, chega à capital do norte o duque da Terceira. Vinha para “apalpar” o terreno, saber como estavam as coisas. Hospedou-se no palácio dos condes de Terena, aquela bela construção oitocentista, hoje propriedade da diocese do Porto, que, na atual rua de D. Manuel II fica mesmo em frente ao palácio de Cristal.
A notícia da chegada do duque circulou rápida pelas ruas do Porto. E os homens da Junta do Governo Provisório, logo que a confirmaram, não hesitaram: deram-lhe voz de prisão e meteram-no numa das enxovias do castelo de S. João da Foz. O duque só de lá saiu quando a revolta do Porto foi sufocada pela intervenção estrangeira que, em 24 de junho de 1847, obrigou as partes a assinarem a célebre convenção de Gramido, um pequeno lugar da freguesia de Valbom, em Gondomar, na margem direita do rio Douro.
Quando o duque da Terceira foi preso, o povo do Porto cantarolava esta canção: “Não devia vir ao Porto, / nobre duque da Terceira; / que apesar de ser macaco / foi cair na ratoeira…”.
Macaco, na ideia do povo, queria dizer astuto, sagaz, matreiro. E ratoeira significava prisão.