Jorge Libertado vestiu-se a rigor e pôs-se à porta da sua taberna com um livro e um saco com garrafas de vinho na mão. Quarta geração de taberneiros, sabia que Marcelo Rebelo de Sousa, à semelhança dos Presidentes anteriores, passaria por ali, ao terminar a subida pela Segunda Rua da Mouraria, em Moura. Também sabia que pararia. O que não sabia é que este Presidente lhe perguntaria, ao olhar para as garrafas, “então e não se bebe nada?”
Marcelo entrou (foi o primeiro Presidente da entrar na Taberna do Liberato) e bebeu vinho, provou o queijinho e ainda conseguiu que lhe oferecessem um bocadinho de presunto. Uma refeição completa para aquele que sobrevive com a campanhas eleitorais à base de sandwiches de queijo. Perante a generosidade do taberneiro, Marcelo disse “Ainda vai à falência!”, mas Jorge Liberato respondeu com um mimo: “não com um Presidente como você, que dá força [à economia] para melhorar.”
Depois dos comes e bebes, Marcelo seguiu caminho. O taberneiro ficou para trás, contente com a visita. “É como Mário Soares”, diria finalmente à VISÃO.
De facto, como Soares, Marcelo fez furor na sua primeira presidência aberta, a que chamou “Portugal Próximo”. Beijou crianças e velhinhas, deu “passou-bem” vigorosos, ouviu queixas, pedidos de ajuda e muitos elogios. “Cuidado que está mais magro”, disseram-lhe em Évora. “Estou cansado, mas engordei um quilo”, respondeu. A senhora nem ouviu, respondendo de seguida: “Olhe que eu não o quero lá um ano, quero-o lá dez anos!”
De tão à vontade, parecia que Marcelo está em Belém há anos. Exatamente como Soares, na sua primeira Presidência Aberta, em setembro de 1986, em Guimarães. Pelo interior alentejano, Marcelo disse e repetiu que quer um Portugal Próximo, sem desigualdades, porque “não há portugueses de primeira e de segunda”, diria em Portalegre. “Há portugueses todos iguais e há grandes desigualdades. Uma das grandes desigualdades marcantes é entre quem vive no interior e quem vive no litoral.”
Também Soares, há 29 anos, se deparou com a mesma questão. Foi na sua segunda Presidência Aberta (a segunda desde o 25 de Abril), em Bragança. “Nós também somos portugueses, desculpe Sr. Presidente”, exibiam os alunos de uma escola primária do distrito. A mensagem estava colada a uma placa de sinalização “STOP” criada de propósito para fazer parar a caravana presidencial, que passava pelas estradas do interior transmontano. Soares engraçou com a situação.
Quase 30 anos depois não houve “STOP’s” improvisados, mas a mensagem mantém-se.
PS: Se em Moura compararam Marcelo a Soares, no Alqueva compararam-no com o Papa Francisco.