As palavras quase sempre importam, raramente são proferidas em vão. E “reféns” foi a palavra que, nesta segunda-feira, 20 de janeiro, Donald Trump utilizou para se referir aos que invadiram o Capitólio há quatro anos e por isso foram condenados. Depois de ter tomado posse, um dos primeiros decretos que assinou, a par da saída dos EUA da Organização Mundial da Saúde e do Acordo Climático de Paris, foi o perdão das 1 500 pessoas responsáveis pelo ataque de 6 de janeiro de 2021.
Trump está de regresso ao Capitólio, quatro anos e 15 dias após esses acontecimentos inimagináveis, perpetrados por quem não concordou com os resultados das eleições presidenciais de então. Ao assinar aqueles indultos massivamente, o que Trump fez foi, de facto, legitimar o uso da violência como forma de protesto. Biden, ao invés, concedeu-lhe uma transição pacífica (agora que já vimos tudo, é sempre bom recordá-lo). Antes, havia uma dissociação clara entre o que Trump dizia que ia fazer e o que, depois, Trump efetivamente fazia. No mandato que esta semana se inicia, o que se afirma não é apenas uma nova ordem mundial, com múltiplos polos e vários centros de poder. De agora em diante, as palavras do 47º Presidente vão ter correspondência real com os seus atos. Duvidam?