Com uma extensa costa atlântica e uma das maiores Zonas Económicas Exclusivas (ZEE) marítimas da União Europeia, Portugal tem uma relação profunda com mar, que não só moldou a sua história e cultura, como constitui um recurso inestimável para o país. Efemérides como o Dia Nacional do Mar, que se comemora a 16 de novembro, e o Dia Mundial da Pesca, que se assinala a 21 de novembro, são ocasiões importantes para relembrar a responsabilidade de gerir de forma sustentável os recursos, em especial quando Portugal é o país da UE que consome mais pescado per capita, com uma média de mais de 55 kg por ano e ocupa a terceira posição mundial, de acordo com dados do EUMOFA 2023. Entre o pescado consumido, cerca de dois terços é importado para fazer face à procura, com o bacalhau a liderar na preferência.
O relatório ‘Consumer Insights do MSC’, Marine Stewardship Council, de maio deste ano, realizado pela GlobeScan, revela que 42% dos consumidores de produtos do mar estão preocupados com o estado dos oceanos a nível mundial e 75% acredita que é preciso mudar os hábitos de consumo para pescado proveniente de fontes sustentáveis. Estes números demonstram um maior interesse e consciência dos consumidores com questões ambientais ligadas aos produtos do mar. Mas tal como o mar se agita, é preciso continuar a agitar consciências, continuar a trabalhar a educação ambiental, apostar na promoção de um consumo mais diversificado e sustentável, assim como continuar a promover uma pesca sustentável, que permita que as populações de peixes se reproduzam de forma adequada e contínua. Isso passa também por fomentar práticas de pesca responsáveis, que minimizem os impactos ambientais, combater a pesca ilegal e a sobrepesca.
Para isso, Governo, indústria, organizações não-governamentais e cidadãos devem agir em conjunto na construção de um futuro sustentável dos oceanos. Sabemos que Portugal está comprometido com os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas, sendo um deles inteiramente focado na conservação e uso sustentável do oceano. O objetivo 14 inclui metas específicas até 2030, como prevenir e reduzir a poluição marinha, gerir e proteger os ecossistemas marinhos e costeiros, regular a extração de recursos e implementar planos de gestão com base científica, entre muitos outros.
A questão da transparência é também essencial. Os consumidores merecem e devem ter garantia da origem e do percurso que o pescado faz desde o momento da captura até chegar à mesa. Um dos requisitos a fim de garantir a sustentabilidade do produto final é que o sistema de rastreabilidade seja credível, sendo este um trabalho que envolve todos os intervenientes na cadeia de valor da pesca sustentável
Compreender a proveniência, os métodos de pesca utilizados e o impacto ambiental associado são fatores que contribuem para decisões de compra mais informadas e sustentáveis. Neste contexto, as certificações desempenham um papel crucial, sobretudo quando são emitidas por entidades independentes, uma vez que oferecem uma maior credibilidade e confiança quer na marca, quer no produto, levando o consumidor a comprar com maior consciência.
Aproveitemos estas efemérides para repensar as nossas ações, pois por mais pequenas que sejam cada uma delas tem um impacto real e tangível nos nossos preciosos oceanos.
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