Não há nada mais compreensível do que a indignação dos que sofrem. Só um coração empedernido não se comove com as imagens de Valência, perante a dor dos que perderam os seus entes queridos, dos que não têm sequer um corpo para velar e que, por isso, são obrigados a fechar um ciclo ‒ a fazer o luto ‒ sobre o vazio. Por ora, são duas centenas de vítimas mortais, poderão vir a ser muitas mais, escondidas em garagens e parques de estacionamento, num cenário demasiado cruel para o que a nossa compreensão consegue aceitar.
Nas localidades de Chiva e de Paiporta, o ground zero das cheias provocadas pela DANA (acrónimo em espanhol do fenómeno Depressão Isolada em Níveis Altos), que na semana passada assolou a costa leste de Espanha, entende-se o choque, a raiva e a revolta. Estão vivos, ao contrário de muitos dos seus familiares, amigos e vizinhos. Mas tudo ruiu à sua volta. Como enterrar os mortos e cuidar dos vivos, quando só resta o caos e a devastação? Uma das pessoas que, no domingo, 3, se dirigiu a Felipe e a Letizia argumentava que, se a grande Espanha sabia “fazer a festa”, também tinha de estar preparada para lidar com a grande catástrofe. Perante o desespero, como contrapor com a razão?