Estava escrito nas estrelas: como a época de incêndios tinha sido fraquinha, era necessário potenciar ao máximo três dias de calor serôdio, mas intenso, em setembro, para pôr a máquina a andar. Esta bem podia ser uma tese conspirativa. Mas por muito que, ciclicamente, se aponte o dedo ao “negócio do fogo”, raramente se fala de política de ordenamento do território ou de medidas práticas de prevenção. Num incêndio paralelo, o do Orçamento do Estado, que se tornou a grande discussão política da rentrée, temos, como achas na fogueira, as propostas fiscais, correspondentes ao programa da AD. Mas as populações, devastadas pelos fogos de setembro, devem estar-se nas tintas para o “IRS jovem”. Um orçamento corajoso investiria menos na satisfação de grupos de pressão socioprofissionais, de lóbis sindicais ou empresariais e de clientelas eleitorais, dos reformados aos professores, e começaria a mexer na infraestrutura do País. Querem um governo reformista? Deem-me um governo que gaste uns milhões, muitos milhares de milhões, a recuperar o território destruído e as suas populações, a mudar a paisagem, a ordenar a floresta e a repovoar um País desertificado. E a aproveitar a água desperdiçada de uma terra que, em termos europeus, continua a ser das mais pluviosas.
Esta semana, mesmo sem ter entrado em qualquer “lancha” – ou nalgum carro de bombeiros… –, Luís Montenegro cancelou a agenda e reuniu um Conselho de Ministros extraordinário, para discutir medidas imediatas – e para essa reunião convidou Marcelo Rebelo de Sousa, procurando comprometer o PR e precavendo alguma nota dissonante que se ouvisse a partir de Belém. O incêndio paralelo do Orçamento prossegue. E Montenegro sabe que podem vir aí eleições antecipadas: esta dura prova dos fogos é um teste que não pode falhar.