Os dados estão à vista. A literacia financeira dos jovens portugueses piorou. Segundo o PISA 2022, relatório divulgado recentemente e que analisa e compara o desempenho dos alunos dos países da OCDE, os jovens portugueses apresentam carências importantes no que ao conhecimento financeiro diz respeito. Numa avaliação que tem uma escala que vai até 1 000 pontos, os nossos alunos alcançaram apenas 494 pontos, ou seja, manifestamente pouco para o exigível nos dias de hoje e abaixo da média da OCDE, que se fixou nos 498 pontos. Do total de 20 países avaliados, Portugal posicionou-se a meio da tabela (9.º lugar). Outros resultados foram também conhecidos e indicam o pouco contacto que os alunos portugueses têm com produtos financeiros. Apenas 38% dos nossos jovens têm conta bancária, enquanto a média da OCDE é de 63%. Em relação aos cartões de crédito ou de débito, a média dos alunos dos países que fazem parte da OCDE atinge os 62% e em Portugal não passa dos 27%.
No seguimento destes resultados, o governo anunciou um projeto piloto de inovação pedagógica com sete escolas (públicas, privadas e profissionais), a arrancar já neste próximo ano letivo, que passa por incluir uma nova disciplina designada por ‘Literacia e Dados’ destinada aos alunos do Ensino Secundário. Esta disciplina incluirá vários módulos, estando contemplada a literacia financeira, que apesar de já ser abordada na disciplina de ‘Cidadania e Desenvolvimento’, ganha agora uma maior relevância. Com esta medida, os nossos jovens ganharão mais confiança e desenvolverão algumas habilidades e competências essenciais para a sua vida. A medida ajudará a formar uma geração mais consciente, preparada e capaz de lidar com os vários desafios financeiros que, por certo, encontrará ao longo da sua vida. Os jovens portugueses poderão, no futuro, tomar decisões financeiras mais informadas e gerir as suas próprias finanças de uma forma eficaz.
Esta é sem dúvida uma medida muito positiva, mas que apresenta alguns desafios, sendo um dos maiores e mais importantes a formação e capacitação do pessoal docente, dado que muitos professores não estão habilitados para dar aulas de literacia. Outro grande desafio é o plano curricular. A inclusão de mais uma disciplina obrigatória num currículo escolar já sobrecarregado poderá implicar uma reestruturação cuidada e estratégica para que os alunos não acusem a carga horária. Por fim, um terceiro desafio, poderá ser a própria aceitação dos alunos a esta nova disciplina, dado que falar de dinheiro continua a ser tabu em muitas famílias e regiões de Portugal. A resistência cultural a enfrentar os problemas financeiros cria, por vezes, barreiras difíceis de contornar.
Contribuir positivamente para a promoção da literacia financeira dos jovens pode e deve ser um compromisso partilhado entre o Estado e as empresas do setor, que juntos poderão trabalhar para ultrapassar os desafios evidenciados. Poderiam, desde logo, começar por ajudar a preparar materiais didáticos e contribuir para a formação dos professores através de formações e workshops em parceria com Ministério de Educação. Atualmente, já temos organizações, como a Junior Achievemet Portugal (JAP), que desempenham um papel importante no combate à iliteracia financeira. Outra forma do setor privado ajudar a que esta medida seja bem-sucedida, seria através de campanhas de sensibilização sobre a importância do tema e, por fim, através da criação de incentivos e reconhecimento, como bolsas e certificados.
É fundamental existir um forte compromisso entre todas as partes interessadas, ou seja, entre o Governo, as escolas, os alunos e, potencialmente, o setor privado. Além de precisarmos que os nossos professores estejam capacitados para lecionar esta nova disciplina, esta precisa de estar integrada de uma forma coerente e progressiva no currículo escolar, com objetivos claros e alinhados com as diferentes fases de desenvolvimento dos alunos e das regiões onde eles se encontram inseridos. Paralelamente, os docentes precisam de estar dotados com todos os recursos didáticos necessários.
O segredo estará na capacidade de envolver e motivar os alunos de diferentes idades, com diferentes contextos socioeconómicos. Seja através de metodologias ativas baseadas em projetos ou estudos de caso, de conteúdos com relevância para a vida real, bem como através da promoção de uma cultura de avaliação para identificar áreas de melhoria, os professores terão de encontrar o método que leve ao sucesso
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