Ano após ano, a mancha florestal de Portugal arde, povoações passam o verão em sobressalto, perdem-se vidas, bens, quem vive da terra acaba por abandonar chão queimada. Ano após ano, a situação mantém-se, a justificação por parte de quem nos governa é sempre a mesma. É assim em Portugal. Foi assim em 2003, em 2017 e muitos outros. Nada parece mostrar que será diferente em 2022 ou anos futuros.
A floresta é grande e parte está abandonada. É necessário identificar quem são os proprietários dos terrenos diz o Primeiro-Ministro, numa espécie de ladainha anual, e sempre que chegam os incêndios.
É verdade que, com condições fora do comum, nenhum local está livre do risco de incêndio, mas será que já se fez tudo para proteger por antecipação muito do nosso território? Será que quem está ao comando da cadeia tem a mesma fibra para a gerir, que os bombeiros, muitos deles voluntários, têm para andar entre as chamas?
Com o país mergulhado num caos de fumo, com estradas, aldeias, vilas e cidades assombradas por labaredas, porque não opta quem nos governa por uma solução inspirada no case study das vacinas da Covid? Ou seja, chamar para o comando militares para gerir as forças que no terreno têm a missão de governar e proteger esse mesmo terreno 365 dias por ano?
A estrutura, a cadeia de comando que nos dirige, que existe não serve e isso fica uma vez mais demonstrado. Temos os melhores bombeiros, mas não são suficientes. Aliás, no interior desertificado é cada vez mais difícil às corporações atrair e reter talento jovem para exercer a profissão de bombeiro. Para quando profissionalizar os bombeiros, que já têm uma estrutura montada? Para quando apostar de forma musculada em forças com os conhecidos “Canarinhos” e dar-lhes uma voz de comando única?
Errou-se em Pedrogão, erra-se atualmente. Não basta a demissão de ministros ou palavras de circunstância com as do Primeiro-Ministro perante a catástrofe. Forme-se uma força coesa, com voz de comando único, que esteja no terreno 365 dias por ano, munida com meios económicos para se necessário efetuar o trabalho de asseio, limpeza e conservação que os proprietários não conseguem pagar. Tenha-se uma justiça que apadrinhe o trabalho comunitário nestas equipas de limpeza e acredito que teremos alguns dos ingredientes que podem contribuir para uma menor probabilidade de ver hectares de terra ardida, num país que vive do turismo, que vende as paisagens e a hospitalidade das suas gentes.
A batalha dos incêndios tem de ser ganha. O índice de confiança das populações, nomeadamente do mundo rural, tem de aumentar. Será que chegou a hora?