Uma base de dados de passageiros de voos para controlo pelo Sistema de Segurança Interna. Uma (mais?) câmara municipal que envia para embaixadas os dados de opositores aos respetivos governos contra os quais se organizam manifestações de protesto. Entidades públicas cujos sítios de internet dão acesso aos dados dos seus utilizadores a grandes plataformas de segmentação de mensagens publicitárias ou de mensagens políticas. Agilização do tráfego de dados de uma operação censitária, contratada a uma empresa vinculada a permitir que estes sejam acedidos pelas agências de segurança do seu Estado-sede. Andamos a jogar aos dados, como se os dados não fossem o que são: as nossas vidas.
O País tem andado perigosamente distraído da gravidade do destrambelho sobre o uso dos nossos dados pessoais. Essa distração espelha a nossa gigantesca iliteracia digital que é filha do deslumbramento pela modernidade tecnológica. A quase totalidade de nós entrega-se sem pensar aos passos que o portátil ou o smartphone antepõem ao acesso a uma informação ou a um jogo. Queremos é aceder, e a voragem do acesso grátis legitima tudo. A verdade é que, sem nos darmos conta, damos, com a maior das facilidades, o nome, o número de cartão de cidadão, a morada, o contacto e sei lá mais o quê.