É verdade que a comunicação da Organização Mundial da Saúde (OMS) não tem sido linear e revelou-se até, por vezes, um pouco incoerente, ao longo da ainda curta história desta pandemia. Nalguns casos, como a importância do uso das máscaras ou a utilização de certos medicamentos, os seus porta-vozes contribuíram mais para a confusão do que para o verdadeiro esclarecimento das populações. No entanto, é preciso reconhecer que, desde o início, a OMS sempre alertou para a gravidade do contágio e para a necessidade de nos prepararmos, em todo o planeta, para conviver, durante muito tempo, com o vírus. Como também é verdade que muitos dos seus alertas e avisos foram sendo sistematicamente ignorados por muitos líderes mundiais, desvalorizando a ameaça e, com isso, contribuindo para a propagação da pandemia.
Esta semana, depois de ultrapassados os marcos simbólicos dos 10 milhões de contágios e de meio milhão de mortos, a OMS voltou a proferir um alerta importante, no momento em que, um pouco por todo o lado, o número de casos positivos de Covid-19 voltou a aumentar, num movimento simultâneo com o fim do confinamento de milhões de pessoas.
“O pior ainda está para vir”, fez questão de sublinhar Tedros Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, mas sem conseguir que essa afirmação tivesse o impacto que se justificaria num momento destes.
Há explicação para esse silêncio geral que se escutou no planeta perante um aviso tão sério: após meses de confinamento e de paragem, as atenções estão agora cada vez mais voltadas para o retomar das atividades económicas. E mesmo que novos focos de contágio vão surgindo, começa a ganhar força a ideia de que esse é o “preço a pagar” para evitar medidas drásticas ou o regresso ao confinamento.
Valia a pena, no entanto, que o mundo olhasse com mais atenção para os exemplos de quem tem estado a lidar melhor com a pandemia. É o caso da Coreia do Sul, que nunca chegou a mandar a população para casa, mas que, em contrapartida, acionou todos os sinais de alarme quando, nas últimas semanas, voltou a registar cerca de 40 novos casos por dia. Sim, leram bem: 40 casos, num país com 51 milhões de habitantes! Porquê tanto alarme perante um número aparentemente baixo de casos? Porque as autoridades sanitárias de Seul sabem que, se não atuarem depressa, em pouco tempo esses casos poderão subir para 800 por dia e, nessa altura, será impossível controlar as cadeias de contágio. Ou seja, sabem que, se não trabalharem bem, o “pior” acabará mesmo por vir.