Pedro Passos Coelho saiu, domingo, mais forte do Coliseu, do que quando lá entrou, na sexta-feira. O que não deixa de ser espantoso. Recandidato sem opositor assumido, o líder do PSD foi para um Congresso de certa forma isolado no reduto dos seus fiéis e alvo diário de críticas ferozes de muitos comentadores oriundos do seu próprio partido. À partida, tudo se conjugava para que o conclave servisse apenas para cumprir calendário e para abrir “oficialmente” a campanha para as europeias. O que muitos esqueceram é que esta campanha abre um ciclo eleitoral que dura até 2016, com as presidenciais, e umas legislativas pelo meio. Há muitos interesses em jogo, muitos cargos, muitos negócios. Inesperadamente, toda a gente (ou quase) acabou por aparecer. Ex-líderes, ex-ministros, ex-opositores desfilaram pelo palco, ora aconselhando o chefe, ora arrancando-lhe sonoras gargalhadas, às vezes lançando uma ferroada para não se dizer que criticam cá fora e não têm coragem de o fazer lá dentro. Os VIP foram passando pelo lugar estrategicamente vago ao lado “do Pedro”, porque uma imagem vale mais do que mil palavras. E a sala sempre cheia, o clima de reconciliação, o cheirinho a que milagres acontecem.
O líder do PSD fez o que quis. Abriu e fechou o Congresso com discursos de improviso e reabilitou o seu amigo Relvas contra tudo e contra todos. Foi tão feroz nos ataques ao PS como sibilino a pedir-lhe um compromisso. Anunciou o cabeça de lista às europeias e deixou no ar o mote que há de servir de fio condutor à(s) campanha: “Não fomos nós que trouxemos Portugal para o caminho da bancarrota.” Saiu sem se perceber se é mais irritante (para utilizar o adjetivo de Marcelo) quando, naquele tom gélido, anuncia que vem aí mais “pancada” – sim, foi este o termo, ao garantir que a austeridade não acabou; ou quando, sem jeito nenhum, apresenta, “com humildade”, a sua “gratidão aos portugueses”. No PSD, Passos ficou mais forte, o que não é de somenos, antes das muitas batalhas que aí vêm.
Na última crónica, abordei a provável adesão da Guiné Equatorial à CPLP. Confirmou-se o pior. Um país que não fala português, dirigido por um ditador cuja política todos os dias espezinha os direitos humanos e a justiça social faz agora parte da comunidade cuja razão de ser e fio condutor é justamente a nossa língua. O petróleo e os interesses ditaram o desfecho. Mais uma vez, a diplomacia portuguesa teve medo de existir, olhou para dentro e fez-nos mais pequenos do que realmente somos quando, aprende-se nos compêndios de História, não é a dimensão geográfica que dita a grandeza de um país. O processo que conduziu à independência de Timor e o contributo decisivo de Portugal devia ser matéria de estudo e reflexão obrigatória no Palácio das Necessidades e na residência oficial de S. Bento. Estávamos sós, mas conseguimos fazer-nos ouvir em todo o mundo, apesar de, do outro lado, estar um gigante chamado Indonésia, muito mais poderoso e influente do que a Guiné Equatorial. É tudo uma questão de princípios. Não há grandes ilusões sobre o cinismo da realpolitik e o quanto tem subvertido os fundamentos morais, ideológicos ou as meras questões de direito, nas relações entre Estados. Mas há causas que valem a pena, sobretudo quando tocam áreas inalienáveis como os direitos humanos. Portugal não teve coragem de abraçar essa causa justa e irrefutável e assim perdeu uma boa ocasião para se transcender. Ficou mais pequenino e mais irrelevante.