Se o arrependimento matasse, José Sócrates não estaria, agora, a sentir-se muito bem-disposto. É que foi um Governo PS que inventou o conceito SCUT (auto-estradas Sem Custo para o Utilizador), criando necessidades e, já agora, os tais “direitos adquiridos”, a populações que, até aí, tinham sobrevivido sem elas. Significa que as auto-estradas não deviam ter sido construídas? Não. Significa que deveriam ter sido, desde o início, “portajadas”, para usar um neologismo irritante. Todas as auto-estradas tinham, em Portugal, até então, pagamento de portagens. Era um dado adquirido que, imposto de início, não teria provocado estranheza ou protestos. Mas é agora, após anos e anos de promessas em sentido contrário, que um Governo PS pretende impor portagens a populações mal habituadas. Não pela “justiça da coisa”, mas porque está apertado de trocos. Não admira que movimentos de utentes e autarcas venham clamar contra a falta de “alternativas”, esquecendo-se de como se deslocavam antes de haver auto-estradas…
A própria ideia da obrigatoriedade de uma alternativa é falaciosa.
Utilizadores e autarcas exigem “verdadeiras alternativas”. O que é uma “verdadeira alternativa”? É que, se as alternativas tivessem de ser assim tão boas, por que diabo se havia de construir auto-estradas? Ou será que os utentes querem como alternativa uma… auto-estrada à borla? O assunto encerra outras perplexidades: em Lisboa, há duas pontes com portagem. E os lisboetas perguntam-se e perguntam ao resto do País, agora tão escandalizado por chegar a sua vez: onde está a “alternativa” para a travessia rodoviária do Tejo?
Mas não é tudo: a região de Lisboa é aquela que mais contribui para o PIB nacional, a que paga mais impostos e onde a qualidade de vida está mais deteriorada. Apesar disso, não há uma única auto- -estrada em que não se pague portagem: na A1, na A2, na A5, na A8, na CREL e nas duas pontes. Por que razão haviam o Grande Porto ou o Norte Litoral de estarem isentos? O que justifica tal política? Quem decidiu isto?
Tomemos como exemplo a SCUT A23. Entre Torres Novas e a Guarda não existe a tal alternativa. Mas o argumento está viciado. Na verdade, não haverá muitos torrejanos ou egitanos que façam este percurso diariamente… O que há é utilizadores regulares de percursos intermédios dentro deste troço. E nesses percursos intermédios não haverá alternativas? Porquê? Antes, era a corta-mato?
Mas o Executivo, que acordou tarde, acordou, também, estremunhado. A invenção do chip obrigatório (talvez para poupar em cabinas e portajeiros, embora alguém vá ganhar dinheiro) é a mais peregrina das ideias do Governo Sócrates II. Uma das anedotas da semana foi a declaração do secretário de Estado Paulo Campos, afirmando que os turistas também terão de adquirir o chip, recebendo o depósito do mesmo à saída. Adeus, espaço Schengen!
Portugal prepara-se para fechar as fronteiras, obrigando cada viatura que entra ou sai a parar. E as populações raianas, têm direito a levar o chip para casa? E vão ter uma via verde especial na fronteira? E os portugueses, passam a ter os seus movimentos registados? Deixamos de poder viajar incógnitos, pagando em cash, na portagem? Para já, precisamos de saber quem fabrica o chip. Como dizia Vasco Santana, na Canção de Lisboa, “andamos todos ao mesmo”.