É habitual ouvir-se os comentadores de futebol a usar a seguinte expressão: “A manta é curta e quando se tapa a cabeça, descobrem-se os pés.” Não é das mais felizes – daquelas que só o mítico Gabriel Alves era capaz de pronunciar – mas, desta vez, aplica-se na perfeição à prestação da selecção nacional no Campeonato da Europa de 2008.
É verdade que o que ficará nos anuários do futebol é que Portugal registou a pior classificação em fases finais desde que Scolari assumiu o comando da equipa. O que é uma derrota clara do ainda seleccionador, pois ele próprio tinha assumindo como objectivo mínimo o de entrar no lote dos quatro semifinalistas. E também é verdade que fica a sensação de que Portugal tinha condições para lá chegar, não fora ter cometido tantos erros defensivos e ter falhado tantos golos contra a Alemanha. Os tais “detalhes” de que os homens da bola tanto falam e que, de facto, em alta competição, são absolutamente determinantes.
O que não pode deixar de reconhecer-se é que, Scolari pouco mais conseguiria fazer com os jogadores que tinha à sua disposição. E não falo apenas dos 23 convocados. Conto também com os outros (poucos) convocáveis que deixou de fora.
Apesar dos milagres produzidos por Darlan Schneider e António Gaspar, na recuperação física dos jogadores, foi evidente que Portugal não dispunha de mais de 14 jogadores com capacidade de jogar este Europeu. E se a recuperação de Deco, Petit, Bosingwa e Nuno Gomes foram importantes para que estes jogadores assumissem um papel fundamental na boa qualidade de jogo que a equipa apresentou, já a impossibilidade de encontrar soluções no banco acabou por ser o maior obstáculo da selecção neste Europeu. Quim lesionou-se, Miguel apareceu com vários quilos a mais e sem capacidade de explosão, Miguel Veloso, Bruno Alves, Jorge Ribeiro, Hugo Almeida e Fernando Meira pouco mostraram no dia em que tiveram oportunidade e Ricardo Quaresma desde cedo provou que não sabe ser um segunda linha.
Salvaram-se Postiga, Nani e Raul Meireles, os únicos com força e vontade de mostrar serviço sempre que foram chamados.
E, depois, faltou “aquele” Cristiano Ronaldo. O craque do Manchester United (por enquanto) só no jogo contra a República Checa foi verdadeiramente decisivo. E nem um Deco ao nível dos seus melhores momentos chegava, sozinho, para levar a equipa mais longe.
Resta agora esperar pela escolha do novo seleccionador nacional, que, seja quem for, vai ter tarefa muito complicada. Não só porque é não será fácil superar a presença marcante de Luiz Felipe Scolari, mas também porque já se percebeu que, nos próximos anos, vai ser difícil montar uma equipa verdadeiramente competitiva. Portugal vai continuar sem ter avançados decisivos, não se vislumbra o aparecimento de um lateral-esquerdo e, para armador de jogo não se vê ninguém com a capacidade de Deco, que está prestes a fazer 31 anos. E, como se viu, Ronaldo não ganha nada sozinho.