Todos os portugueses que gostam de futebol só podem ter encarado o anúncio oficial de que Luiz Felipe Scolari vai ser o próximo treinador do Chelsea como uma péssima notícia. É que muito dificilmente a selecção nacional encontrará um treinador que consiga continuar (já nem digo melhorar) o desempenho que Portugal – com Felipão aos comandos – tem conseguido desde 2004.
Há que perceber que há alturas em que é necessário fazer rupturas, mudar de vida e abraçar novos projectos. Todos nós já o sentimos. No caso de Scolari, ao fim de quase seis anos à frente da selecção nacional, é perfeitamente compreensível que tenha chegado o momento de mudar. Ainda para mais quando, pela frente, está a hipótese de treinador um dos mais poderosos clubes do mundo da actualidade, no mais competitivo campeonato do planeta. Para um homem como este “nosso” brasileiro, poder liderar um clube como o Chelsea, com capacidade financeira para construir uma equipa capaz de discutir todas as competições em que entra, é uma oportunidade que não podia ser desperdiçada. Para já não falar do ordenado, que, segundo consta, só ficará atrás daquele que José Mourinho vai receber no Inter de Milão.
Só há um problema a ensombrar esta ida de Scolari para Londres. É o momento em que foi anunciada.
Ninguém pode levar a mal que um profissional possa tratar do seu futuro, mesmo quando ainda está comprometido com outra entidade patronal. É o mercado de trabalho livre a funcionar. Acontece que Scolari foi muito claro em todas as intervenções públicas que fez desde que a selecção nacional chegou à Suíça para participar no Euro 2008, afirmando sempre que o tema do seu futuro profissional só seria abordado após a saída de Portugal do torneio. Mais: mesmo reconhecendo aos seus jogadores a liberdade de negociar contratos para a próxima temporada, também disse que, tinha chegado a altura “de todos se concentrarem no Campeonato da Europa”. Chegou a ser ele mesmo a anunciar que Cristiano Ronaldo só decidiria se fica em Manchester ou ruma a Madrid após o Euro 2008.
Como é que, depois disto, pode aceitar que o anúncio da sua entrada no Chelsea – e a consequente não renovação de contrato com a FPF – seja feito à socapa, em pleno torneio e através de um sorrateiro comunicado publicado num site na Internet? Dizem aqueles que o rodeiam que não tinha alternativa, pois Roman Abrahmovic não podia aceitar que um clube como o Chelsea estivesse mais tempo sem anunciar o treinador. Uma empresa cotada em bolsa não podia estar mais tempo sem se que os accionistas soubessem quem iria comandar o seu principal activo, a equipa de futebol. Faz sentido. E também se percebe que, no encontro que mantiveram na véspera do Portugal – República Checa, o milionário russo tenha encostado Scolari à parede e que este não tenha tido outra alternativa além de exigir que o anúncio fosse feito apenas depois de Portugal garantir a passagem aos quartos-de-final.
O problema de Scolari é que, para sair de entre uma espada e a parede, se limitou a trocar de espada. A partir de agora, qualquer deslize da selecção será facilmente atribuído ao factor de desestabilização que este anúncio pode provocar no seio de uma equipa que, reconhecidamente, vinha funcionando à base de muita concentração e união em torno de um só objectivo. E será uma pena se Scolari deixar Portugal dessa forma.