E se o teatro fosse capaz de vencer a morte? Em No Yogurt for the Dead, que se estreia na Culturgest a 19 de fevereiro, e a 27, no Theatro Circo, em Braga, Tiago Rodrigues, ator, encenador, dramaturgo e produtor português, atualmente Diretor do Festival d’Avignon, em França, tenta alcançar esta vitória.
A peça “traz de volta à vida” o jornalista Rogério Rodrigues, pai do encenador, baseando-se no último episódio da sua vida. Tiago imaginou as palavras que, apesar de já não ter conseguido, o pai gostaria de ter escrito nos seus últimos dias, passados num hospital, criando um relato entre a realidade e a ficção, o jornalismo e a poesia, daquilo que é a experiência da doença terminal.
Tiago imaginou as palavras que, apesar de já não ter conseguido, o pai gostaria de ter escrito nos seus últimos dias, passados num hospital
Com uma carreira de 40 anos, ao dar entrada no hospital, pouco tempo antes de morrer, Rogério Rodrigues pediu ao filho que lhe levasse um caderno, pois queria documentar “a sua experiência desumanizante naquele lugar, bem como as histórias dos outros pacientes, médicos e visitas”.
“O jornalismo era a sua forma de morrer”, contou o encenador numa entrevista ao NTGent, co-produtor do espetáculo juntamente com a Culturgest.
Porém, após a morte do pai, ao abrir o caderno, Tiago encontrou apenas o título No Yogurt for the Dead seguido de algumas linhas, pontos e rabiscos impercetíveis.
Misturando factos e ficção, deu forma a um espetáculo que defende ser, mais do que um tributo ao pai, uma tentativa de “encontrar conforto, humanidade e até alegria no ato de recordar aqueles que amamos”.
Num cenário onírico, entre a realidade e a ficção
O cenário assemelha o de um sonho, não demasiado abstrato, não demasiado concreto. Duas camas de hospital, que têm exatamente o aspeto que se espera de uma cama de hospital, encontram-se num vale que tanto poderia ser uma cratera lunar como a dobra de um lençol feito para alguma criatura gigante.
Deitado numa das camas, Rogério passa os dias entre as trivialidades hospitalares e as grandes questões filosóficas que assolam, com igual intensidade, quem está destinado a uma morte a curto prazo. O ritmo é marcado pelas conversas, discussões e recordações trocadas com os médicos, os filhos, o vizinho de cama e “a pior enfermeira do mundo”.
A narrativa corre para frente e para trás, entre passado e presente, até nos esquecermos o que é facto e o que é ficção, o que são recordações dos filhos e o que são recordações da “pior enfermeira do mundo”, o que são histórias contadas pelo próprio Rogério e o que são histórias que os que o conheceram contram sobre ele.
A peça marca o regresso de Tiago Rodrigues à Culturgest, quase um ano após ter feito subir ao mesmo palco Na Medida do Impossível, espetáculo transformado agora num livro editado pela Tinta da China, que será lançado a 20 de fevereiro, às 18h30, no Auditório 2 da Culturgest, com a presença do autor.
Culturgest > R. do Arco do Cego, 50, Lisboa > 19-21 fev, qua-sex 21h, 22 fev, sáb 15h30 e 19h, 23 fev, dom 17h > €20 // Theatro Circo > Av. da Liberdade, 697, Braga > 27-28 fev, qui-sex 21h30 > €15