Abre hoje, 1 de novembro, a Casa do Comum – Centro Cultural do Bairro Alto, o último projeto desenhado e sonhado por José Pinho, fundador da Ler Devagar, do Festival Fólio e de muitos outros projetos. Falecido em maio passado, a estrutura da Ler Devagar e a sua família prosseguem o seu legado. Situado na Rua da Rosa 285, em Lisboa, o espaço foi “testado” nos últimos meses, nomeadamente com a Feira do Livro Anarquista e as festas do DocLisboa, o que permitiu ver “o que funciona” e “preparar a equipa”, como adianta ao JL o seu filho, realizador, Pedro Pinho.
JL: O espaço que vão abrir chama-se Casa do Comum. O nome denuncia a sua filosofia?
Pedro Pinho: Sim, a ideia sempre foi, desde o projeto inicial do José Pinho, criar um espaço onde acontecessem todas as atividades que são feitas em comum: conversar, ler, beber copos, comer, ver filmes, ouvir música, cantar e por aí fora. Essa é a matriz deste espaço.
Um verdadeiro ponto de encontro?
Exato. Um ponto de encontro que de alguma forma pretende ser um contraponto a uma certa lógica que está cada vez mais presente nas nossas vidas: a lógica de isolamento, atomização e aceleração. Já o próprio nome Ler Devagar tinha estes conceitos associados. É preciso de parar e contrariar a aceleração para a qual somos empurrados pelo modo de vida atual. Nesse sentido, este espaço propõe o encontro, o fazer-se coisas juntos, entre seres humanos em contacto direto, e tomando o tempo que elas pedem.
E como vai concretizar-se essa filosofia nos diferentes espaços do centro cultural?
A Casa do Comum abarca três andares. No rés do chão tem uma livraria alfarrabista e um bar que receberá pequenos concertos intimistas. As mesas de mármores – recuperadas de uma cervejaria antiga da baixa que foi transformada num hotel – convidam a estar, a passar o dia e a noite. No 1º andar, uma livraria Ler Devagar com especial atenção ao público infanto-juvenil e com uma seleção cuidada de livros novos. Será dada particular atenção às editoras independentes e mais pequenas. Neste andar há ainda o que chamamos de Museu da Preguiça, uma sala com camas e redes e três bibliotecas, a de literatura erótica de José Pinho e as de Roger Claustre e Liana Marchetti. Uma sala para dormir uma sesta ou simplesmente estar, com muitas leituras pelo meio.
E no 2º andar?
Será o espaço do Cinema Tédio, uma sala de estreias (com 50 lugares) para fugir a lógica da “ditadura da bilheteira”, que faz com que filmes portugueses e estrangeiros estreiem e passada uma semana tenham de dar lugar a outras obras, numa rotação muito grande. Com isso, os filmes não encontram o seu público, sem tempo para o boca a boca.
Como será a programação?
Até ao final do ano está a nosso cargo, mas o nosso objetivo é dar uma espécie de carta-branca, a partir de janeiro de 2024, a uma pessoa fora da estrutura. Será ela a definir a programação por um período que pode ir dos seis meses aos dois anos, trazendo a sua marca e visão. E essa programação será o mais abrangente possível. J Luís Ricardo Duarte