Uma simples tecla pode criar uma modificação significativa na forma de lidar virtualmente com o outro. O Facebook prepara-se para inserir o botão unlike/não gosto. Um movimento, com repercussão semelhante à Associação contra o pickle no Big Mac, há muito que o exigia. Mas nos seus estudos de impacto a empresa de Silicon Valley não fizera caso. Até agora. Não foi uma decisão simples. Nada no Facebook será como dantes.
O Facebook tem uma lógica positiva muito ao estilo americano, de forma a evitar conflitos. Somos notificados sempre que alguém nos pede amizade. Mas ninguém nos avisa se alguém nos desamiga ou bloqueia. Palavrões e imagens que possam ferir a suscetibilidade (sobretudo nus) são banidos, apesar de os utentes, teoricamente, serem todos maiores de idade.
Pelo que a introdução de o ‘não gosto’ vai interferir arduamente na lógica da rede social, concedendo-lhe uma índole mais negativista, alargando as portas do conflito ou do debate de ideias. A intenção revelada por Mark Zuckerberg é apenas aperfeiçoar o sistema, colmatando algumas lacunas. Em tempos literais, não faz sentido perante más notícias, como a morte de alguém, ter apenas disponível o botão gosto. Mas na semântica particular do Facebook esse ‘gosto’, nesse caso, passou a significar apenas uma nota de apoio. Agora recuperar-se-á a literalidade.
E se colocarem um ‘não gosto’ na sua canção preferida, num pensamento profundo ou na fotografia do seu filho? O Facebook entrará numa nova fase, as crispações serão mais visíveis e o exponencial aumento de ‘amigos’ abrandará ou conhecerá tendência inversa. Possivelmente, a rede social fechar-se-á mais em grupos que tendem a estar de acordo. Ou, assim espera Zuckerberg, tornar-se-á mais dinâmica e atiçada (prolongando a sua vida e pertinência).
Interessante seria alargar o conceito do unlike às eleições. Além da cruz no partido escolhido poder-se-ia colocar uma seta para baixo nos partidos mais odiados. Certamente que as eleições seriam mais participativas.