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Leitores cínicos (e nem é preciso que sejam muito cínicos) serão rápidos a apontar que, por muito más que sejam, as condições nos EUA serão infinitamente superiores às que se encontrarão em fábricas e campos anónimos algures no Paquistão, China, Índia, Bangladesh, Indonésia. É possível, mesmo provável. Mas o que torna Days of Destruction, Days of Revolt uma obra tão interessante é que o público (norte-americano) a que se dirige não pode tão facilmente evocar ignorância, invisibilidade e distância como defesas neste caso.
Conjunto de reportagens feitas pelo jornalista Chris Hedges, e com desenhos (ilustrações soltas ou curtas bandas desenhadas) do “jornalista em BD” Joe Sacco (Palestine, Safe Area Gorazde, Footnotes in Gaza) Days of Destruction, Days of Revolt é uma viagem ao fundo de quatro momentos de desespero, acabando com uma quinta, que se pretende seja de início de amanhecer.
Days of Theft é talvez a narrativa mais reconhecível, e funciona sobretudo para situar o leitor. Tem lugar no território depressivo (a todos os níveis) da reserva índia de Pine Ridge, Dakota do Norte, focando as consequências a longo prazo da submissão e “reeducação” das populações nativas num espaço do Velho Oeste que nada tem de mítico. Uma espiral que se prolonga hoje através do alcoolismo e toxicodependência, falta de saídas profissionais, lutas internas, muitas vezes promovidas artificialmente. E na qual a redescoberta de valores tradicionais tanto pode ser vista como libertação do paradigma ocidental, como com o abandonar de uma forma de opressão por outra. Mas a verdadeira função deste primeiro capítulo é relembrar uma mensagem muito simples. A chamada “resolução do problema índio” é algo que a população americana não-índia entende (qualquer que seja a sua opinião sobre o assunto) como tendo sido perpetuada a um “outro”.
Hedges e Sacco argumentam de seguida que ao longo das décadas o “outro” tem-se vindo cada vez mais a parecer com o próprio.Os capítulos Days of Siege e Days of Devastation são exemplos disso mesmo. O primeiro foca a degradação urbana (neste caso usando o exemplo de Camden, Nova Jérsia), onde o fecho ou deslocalização de indústrias produtivas destruiu as tradicionais comunidades americanas estabilizadas nos anos 1950, provocando desemprego, desertificação, violência, instabilidade social e desespero. Com os programas de ajuda ao desenvolvimento a desaparecerem num sorvedouro de obras megalómanas inúteis, programas ineficazes e, sobretudo, corrupção política de uma tal magnitude que só será verdadeiramente compreendida daqui a muito tempo, quando já não tiver remédio e estará em atividade outra corrupção invisível (a qual, por sua vez, será revelada décadas depois, e assim sucessivamente como na série televisiva Boardwalk Empire). Days of Devastation foca a exploração mineira desenfreada na Virgínia Ocidental e estados adjacentes, e o retrato traçado rivaliza com qualquer coisa que se tenha lido a propósito, por exemplo, da desflorestação na Amazónia. Num mundo sem leis ambientais eficazes, e onde toda a regulamentação favorece as companhias mineiras (com o suborno, a intimidação, a violência, e campanhas bem orquestradas de relações públicas a resolverem o resto), montanhas inteiras desaparecem deixando um ar irrespirável cheio de partículas, aquíferos contaminados, um solo que nada produz, e uma população pobre e doente que não consegue fazer valer quaisquer direitos. Um lucro momentâneo, uma devastação permanente, exemplo pleno de desenvolvimento não-sustentado. Utilizando a exploração de gás natural Promised Land, o último filme de Gus van Sant, escrito e protagonizado por Matt Damon e John Krasinski (ator conhecido de The Office) foca um pouco a mesma realidade, com o problema de a ter de diluir num formato narrativo mais dócil, algo que Hedges e Sacco se recusam sempre a fazer.
Por último, Days of Slavery volta de certa maneira ao tema da exploração do “outro”, desta vez focando a agricultura intensiva na Florida e o uso de trabalhadores migrantes (muitas vezes imigrantes ilegais) mal pagos, sem cuidados de saúde, constantemente expostos a pesticidas e herbicidas, explorados por angariadores que raras vezes são denunciados. Como diz um agricultor quanto aos trabalhadores que utiliza para as colheitas: “Antigamente tínhamos escravos que era preciso alojar, vestir, alimentar, cuidar. Hoje alugamo-los, sai muito mais em conta…”. O mais impressionante é que, após ver discutidas as práticas monopolistas das grandes distribuidoras e grandes superfícies comerciais, bem como o papel dos bancos na insegurança permanente em torno da agricultura, é difícil ver os produtores como clássicos “maus da fita”, mas antes como apenas mais uma peça numa engrenagem que impressiona, quer pela sua dimensão, quer pela sua aparente inexorabilidade.
E é aí que reside o problema, um problema de que, de resto, qualquer leitor antecipa muito antes de o encarar. Resume-se a uma pergunta muito simples. E agora? Nos quatro primeiros capítulos Hedges e Sacco mostram e denunciam mas, apesar do texto tentar evitar um tom de desespero e resignação, a verdade é que em nenhum caso se vislumbra um modo (fácil ou difícil, rápido ou longo) de alterar o curso dos acontecimentos, ou mesmo de o desacelerar. Longe das comunidades intelectuais urbanas (Boston, Nova Iorque, San Francisco, Seattle) que se preocupam com os direitos dos animais e com a alimentação “orgânica” usando produtos “biológicos” (quando encontrarem uma alimentação eficaz que seja inorgânica e não biológica avisem), a invisibilidade e a indiferença permanecem, mesmo aqui, os principais problemas, e talvez desse ponto de visto este livro possa ter algum impacto. Nem que seja no apoio às várias pessoas e entidades corajosas que tentam denunciar práticas ilegais, ou ajudar as populações afetadas, e que estão sob ameaça permanente.
O último capítulo, Days of Revolt, é claramente dedicado à esperança e à ação em prol do que se pode mudar, focando-se no Movimento Occupy em Nova Iorque. A possibilidade de reforma interna do sistema parece utópica no início do segundo mandato do Presidente Obama, como parecia inevitável (a alguns ingénuos) no início do primeiro. A questão é que ambos os jornalistas são suficientemente lúcidos para perceber que mesmo ali há fragilidades que fazem com que este tipo de ações sejam muito mais difíceis de sustentar do que as forças a que se opõem, onde a falência de um banco ou a resolução de uma crise financeira apenas abrem alas para os seguintes. Lutar contra um inimigo transnacional sem rosto, e com as leis e justiças oficiais (para não falar dos media) do seu lado, enquanto se tenta sobreviver aos medos (reais e fabricados) do dia-a-dia continua a ser o grande desafio.
Days of Destruction, Days of Revolt é pois um livro urgente, não só pela denúncia e diagnóstico, mas pela maneira como se esgota quando tenta apontar soluções. Claramente é neste último aspeto que é preciso concentrar esforços.
Days of Destruction, Days of Revolt, Chris Hedges & Joe Sacco. Nation Books, 2012 (17/20)
Cynical readers (and you don´t even have to be very cynical) will be quick to point out that conditions in the USA will always be much better that what can be found in anonymous factories and fields in Pakistan, Bangladesh, India, China, Indonesia, which is most likely true. But Days of Destruction, Days of Revolt may be able to reach American readers that cannot as easily evoke distance, ignorance or invisibility to brush away what this book has to say.
A collection of reports made by journalist Chris Hedges, and with drawings and short comics from “comics journalist” Joe Sacco (Palestine, Safe Area Gorazde, Footnotes in Gaza) Days of Destruction, Days of Revolt is a haunting trip with four dark chapters and a fifth that aims to provide at least a hint of dawn.
Days of Theft is perhaps the most recognizable narrative, and has an introductory role. It takes place is the all-around desolate environment of the Pine Ridge Indian Reservation, in North Dakota, and focuses on the long-term consequences of Indian policies of re-location and “re-education” in a non-mythical West, leading to a current state of alcoholism and drug abuse, unemployment, artificial internal struggles, limited opportunities. And where the re-discovery of ancient values can either result in liberation, or the mere exchange of one set of limitations for another. But the true value of this first chapter is to remind the reader. Wherever they stand on this issue non-Indians view the resolution of the so-called “Indian Problem” as something that happened to a foreign “other”. Hedges and Sacco will argue in the following chapters that this “other” is becoming much more difficult to recognize as being anything else than ourselves.
The chapters Days of Siege e Days of Devastation are clear examples of this. The first takes on urban decay (exemplified in Camden, New Jersey) caused by the closing and moving away of productive industries, which resulted in the destruction of traditional communities stabilized in the 1950s, with soaring unemployment, desertification, violence, social instability and increasing despair. Government aid programs and packages are described as money wasting programs that lead to useless developmental projects and are mostly spent on corruption on a massive scale. The kind of corruption so insidious it will only be completely denounced and understood decades from now, when it no longer matters (and has been replaced by novel forms), and has been made into fiction (such as in Boardwalk Empire). Days of Devastation focuses on unrestricted strip mining in West Virginia and adjacent States, and the portrait painted by the authors rivals any devastation described in the Amazonian rain forest, for example. In a world with toothless environmental laws, and where all rules and regulations favor mining companies (with bribes, violence, threats and public relations campaigns dealing with any leftover obstacles), whole mountains disappear leaving behind a particle-laden unbreatheable air, contaminated water supplies, and barren soil. As well as a sick population virtually devoid of rights. A momentary profit, a devastated land, a true example of non-sustainable development. Using the “fracking” method of natural gas extraction as a starting point a similar approach/point of view is described in Promised Land, a 2012 film directed by Gus van Sant, written and acted in by Matt Damon and John Krasinski (from The Office). The difference is that in this case the narrative is packaged into a more palatable format, something Hedges and Sacco clearly refuse to do.
Finally, Days of Slavery in a way brings the book full circle, again focusing on an “other”, in this case the often non-documented migrant workers employed to gather crops in Florida. Workers that are poorly paid, have to waddle through fields heavily contaminated with pesticides with no health care, and are exploited by an endless cadre of “fixers”. In an incredible moment a farmer admits that it’s much easier now that they only have to rent slaves seasonally, rather than house and feed them year round. And the worst is that, once the roles of distributors, large stores and banks in the unstable business of agriculture are ferreted out, it is hard to see the farmers as classical “bad guys”, and they rather come across as just another small cog in an impressive, inexorable, machine.
And that is, of course, the problem. A problem any reader will see coming a mile away. It comes down to a simple question. Now what? The first four chapters are excellent and precise, but cannot avoid hints of despair and even resignation. Although there are always brave people who denounce, fight and help out, the truth is that there are no long-term solutions in sight (either easy or hard) to slow down the state of affairs described, let alone stop it. Far away from the urban liberal establishment (living in Boston, New York, San Francisco, Seattle) and their concerns with animal rights and “organic” foods (when a healthy inorganic diet is discovered please let me know) the plights described still seem invisible to an indifferent population, but perhaps this book can open some eyes.
The final chapter, Days of Revolt, is clearly devoted to hope and the promise of change, focusing on the Occupy Movement in New York, given than any shift based on the current establishment seems as utopic in President Obama’s second term, as it seemed (naively) unavoidable to some in the beginning of his first. However the authors are too lucid not to report on the clear frailties of a movement that is much harder to sustain than its opposing forces, where one financial crisis and collapsed bank are merely replaced by new ones. Fighting a faceless opponent with the official laws and media on their side, while trying to survive the day to day challenges and both real and fabricated threats is the main challenge.
Days of Destruction, Days of Revolt is an urgent and compelling book, not just because of the diagnoses and denunciation it provides, but how it also appears to fizzle when trying to point out possible solutions. Clearly there is more work to be done.