Foi das figuras com mais presença, e que mais vezes foi capa, do JL – e sem dúvida a que o foi mais da área do cinema. Manoel de Oliveira, claro. E a primeira vez foi neste nº, o 17, de 13 de outubro de 1981. São cinco páginas, cinco, que lhe dedicamos – e das ‘grandes’, desse primeiro formato do nosso jornal. Três e meia com uma longa e muito boa entrevista, com três entrevistadores, e que entrevistadores!: o (Fernando) Assis (Pacheco), que foi quem depois escreveu, o Eduardo (Prado Coelho), ambos do nosso “conselho”, a que chamei “coordenador”, e o (Henrique) Alves Costa. Este, cinéfilo de primeira água, fundador do cine-clubismo em Portugal, com o Cine-Clube do Porto de que era presidente, amigo próximo e entusiasta crítico mais constante e ativo de Oliveira, assinava depois um texto assinalando, logo em título, “a necessidade de divulgar os argumentos dos filmes que não realizou” – e que, como se sabe, foram muitos, sendo no entento ainda bastantes mais os que realizou depois dessa entrevista, feita a um mês de distância da estreia, em Paris, de Francisca. A fechar, as primeiras páginas, inéditas, de um desses argumentos, de O Caminho.
E depois do cinema, o teatro, também num extenso texto, três pp., de Jorge Silva Melo (JSM). Título: “Assim como os troianos, também nós”. E nas linhas que o antecediam, como de hábito acontecia nessa altura, escrevia-se: “Viajando através desse país misterioso que se chama Strehler, o autor ao volante do seu automóvel mete a quarta velocidade e pergunta: não será o teatro aquela anacrónica plateia de veludo vermelho que nos fala de antigamente e nos olha a nós deixando-nos por momentos olhá-lo?” Recorde-se que nesse ano de 1981 JSM já tinha deixado a Cornucópia, que com Luís Miguel Cintra fundara, e com uma bolsa da Gulbenkian fora estudar teatro fora do país, estagiando em Berlim, com Peter Stein, e em Milão com o muito famoso Giorgio Strehler, “protagonista” deste texto.
Bem, mas antes destes dois “pratos fortes” da edição, sobretudo o primeiro, ainda temos, a abrir, nada mais nada menos do que inéditos de Antero de Quental, com um artigo de Joel Serrão sobre o poeta das Odes Modernas e Castilho. E, a seguir, designadamente, a análise de João Medina a “Uma edição pseudo-científica d’A Tragédia da Rua das Flores, “O sorriso aos pés da liguagem” (o discurso da fascinação e o mito da identidade), por Luísa Costa Gomes, crónicas de Augusto Abelaira e Arnaldo Saraiva.
Depois, entre os destaques, Almeida Faria a escrever sobre o Congresso do Pen Clube em Lyon, Rogério Rodrigues sobe “Michel Giacometti, o Marco Polo do canto popular”, Fernando Pernes sobre uma exposição de arte moderna na Alemanha, em Colónia, Daniel Ribeiro, de Paris, sobre a homenagem aí prestada a Samuel Beckett. Além disso, continua o inquérito à edição em Portugal, na crítica temos, entre bastante mais, desde o fundamental “O guarda-livros” até Paula Morão a recensear um volume de ensaios de Óscar Lopes, “Crítica e Poesia”, e Luís Salgado Matos uma obra de economia política; Miguel Esteves Cardoso e Guilherme Ismael no cinema, Maria João Brilhante no teatro, Trindade Santos na música – e, a fechar, “Portões fechados”, a crónica de Nuno Júdice.
E, enfim, felizmente o Brasil nunca falhava: neste caso com a Zona Tórrida, do Irineu Garcia, e uma entrevista do Assis a Carlos Nejar, já com um livro editado em Portugal pela Moraes, acompanhada de dois poemas poemas inéditos seus.