Armando Nobre guia um dumper como poucos. Para quem não percebe muito de máquinas, um dumper serve para carregar areia e outro género de cargas pouco pesadas. Este é amarelo, terá metade da idade de Armando e leva ramos da sebe que esteve a cortar, bem cedinho, junto ao Centro Cultural de Barão de São João.
O homem que vai ao volante do dumper amarelo que há de acelerar barulhento rumo à aldeia tem 62 anos, um bigode cómico e vontade de falar. Nuns minutos, o tempo de um duche de água fria na autocaravana da VISÃO, conta como esteve na Guiné, durante a Guerra Colonial.
Guerra, dizem os outros, a maioria. Ele fala de guerrilha, de “pretos pendurados em árvores, que nem usar as armas sabiam”, mas que acertavam muitas vezes, vezes de mais, em camaradas que viu tombar.
“Aquilo não era uma guerra. Matávamos para não sermos mortos. Era isso.” De cimo das árvores caíam umas balas, cá de baixo respondia-se com mais umas quantas. Corpos, poucos viram. Sangue, sim, muito. Mas pouco mais. “Quem conta que apontava e matava, matava, inventa.”
Armando não se lembra de alguma vez ter feito pontaria a alguém, de atirar às árvores, às cegas, claro. Fala dos crocodilos que comeu, “com sabor a coelhinho”, mas agora, tantos anos depois, gosta sobretudo de falar daqueles dois dias em que apoiou a produção de um filme realizado por alemães em Barão de São João, há uns seis anos.
Por esses dois dias esticados até às tantas, Armando, funcionário da junta de freguesia, ganhou 250 euros, mais os trocos deixados num café da aldeia. Fez de empregado, disse duas frases, levou “as raparigas do filme” à discoteca, em Lagos. “Foi o melhor subsídio de férias que tive.”
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