Comprar casa ou arrendar está a tornar-se “incomportável” para as famílias portuguesas, alerta o CEO da Century21 Portugal, Ricardo Sousa. Dados analisados a partir das transações concretizadas no primeiro e segundo trimestre deste ano (e hoje divulgados) mostram que o valor médio dos apartamentos transacionados na rede Century 21 Portugal rondou os 209 mil euros no primeiros três meses do ano, um valor que subiu para 215 mil euros no trimestre seguinte.
Filtrando por Lisboa e Porto, os valores disparam exponencialmente. “Ao comparar os dados sobre imóveis em venda disponibilizados pelo Confidencial Imobiliário, constata-se que em Lisboa, por exemplo, o valor dos apartamentos em oferta no mercado se fixava nos 677,8 mil euros, no segundo trimestre de 2023. Já no Porto, o valor médio dos apartamentos em venda situava-se nos 447,2 mil euros, enquanto que em Leiria esse valor superava os 260 mil euros, em Coimbra os 276,4 mil euros e no Algarve o valor médio dos apartamentos disponíveis para venda atingia os 451,2 mil euros”, detalha o responsável, lembrando que a acentuada escassez de imóveis começa “a criar efeitos paradoxais no mercado, como o aumento crescente do preço médio dos imóveis para níveis já incomportáveis para a maioria das famílias portuguesas”.
Já no segmento de arrendamento, no primeiro semestre deste ano, a rede realizou 2 285 transações, apenas menos 75 do que no mesmo período do ano passado. Porém, os valores médios de arrendamento dispararam 13,6% face aos 992 euros registados no primeiro semestre de 2022 e fixaram a média nacional nos 1 127 euros. “No concelho de Lisboa, a subida do valor médio de arrendamento foi ainda mais acentuada, com a renda média a aumentar cerca de 15% para os 1 463 euros”, sublinha-se no relatório.
No primeiro semestre de 2023, os principais indicadores de atividade imobiliária refletem o impacto da atual conjuntura macroeconómica – aumento das taxas de juro, inflação, vulnerabilidade da confiança dos consumidores, contexto geopolítico e níveis elevados de incerteza, em termos globais. Este contexto influencia diretamente o mercado imobiliário residencial e aumenta os desafios no acesso à habitação, a nível nacional.
Entre janeiro e junho de 2023, a Century 21 Portugal registou uma faturação superior a 41,5 milhões de euros, menos 9% do que os 45,8 milhões de euros registados em igual período do ano anterior. Já o volume de negócios em que a rede esteve envolvida – incluindo a partilha de transações com outros operadores – superou os 1 713 milhões de euros no primeiro semestre de 2023, numa ligeira descida de 5% em comparação com os 1 807 milhões de euros do período homólogo, no ano anterior.
“A principal razão da quebra de vendas é a subida das taxas de juro, que está a diminuir significativamente o poder de compra dos portugueses. Consequentemente, a diminuição do valor dos imóveis que os portugueses podem adquirir face à nova realidade das taxas de juro, conjugada com uma oferta de soluções habitacionais cada vez mais desadequada para o poder de compra da procura das famílias portuguesas, resulta numa inevitável redução do número de transações”, explica ainda Ricardo Sousa.
Neste primeiro semestre, o peso das transações do segmento nacional na operação da Century 21 Portugal atingiu os 85%, enquanto o segmento internacional representou 15% do volume das transações efetuadas. Americanos, franceses, ingleses, brasileiros e espanhóis estão entre os maiores clientes no segmento internacional. Na rede Century 21 Portugal foram efetuadas 1260 transações de clientes internacionais, o que revela uma evolução negativa de 28% relativamente às 1764 efetuadas no período homólogo do ano anterior.
“Esta redução do número de transações internacionais foi influenciada pela perceção, gerada no exterior, de instabilidade legislativa, decorrente do debate público e das medidas do programa Mais Habitação”, refere-se no balanço. Outro fator determinante passa também pela falta de oferta de imóveis abaixo de 400 mil euros nas regiões com maior concentração da procura internacional.
“Se houver uma maior clareza sobre os programas de atração e retenção de investimento internacional – os nossos indicadores demonstram que Portugal ainda pode recuperar os níveis de atratividade até ao final do ano. Contudo, o mercado imobiliário em Espanha tem sido uma alternativa para este segmento internacional, e continua a ganhar competitividade relativamente a Portugal”, alerta o CEO da Century21 Portugal que também lidera a rede em Espanha.