Longe vão os tempos em que aos colaboradores bastava apenas um bom ordenado e condições básicas de trabalho. Hoje em dia, as empresas esforçam-se por fixar os seus profissionais ‘millennials’ e impressionar os seus parceiros de negócios através de um investimento elevado no espaço físico da organização.
Quem quer usar as áreas de trabalho para deixar a marca corporativa da empresa pode fazê-lo de várias formas que vão além do uso de materiais exclusivos ou mobiliário de alto luxo. Criar uma galeria de arte no escritório, fazer parte de um edifício ou de uma localização super prime ou proporcionar experiências impactantes a quem trabalha ou visita a empresa passaram a fazer parte da nova geração de escritórios. Mas agora há o ultra-luxo no local de trabalho, num autêntico despique para reter talento e clientes.
No One Vanderbilt, um arranha-céus de 93 andares no centro de Manhattan, o ‘refeitório’ num dos últimos pisos, é antes um autêntico restaurante gourmet. Empregados de mesa trajados a rigor servem foie gras, vieiras grelhadas e outros pratos de Daniel Boulud, um chef famoso, num ambiente a fazer lembrar os exclusivos clubes privados dos muito ricos.
No mesmo quarteirão do One Vanderbilt, mais precisamente no número 425 da Park Avenue, um bloco de escritórios criou terraços arborizados em todos os andares e no lobby, a fazer lembrar os hotéis de cinco estrelas, assim que se entra, há música suave e um perfume exclusivo.
Também bem perto, os inquilinos do 50 Hudson Yards, sede da BlackRock, uma empresa de investimentos, e da Meta, o gigante da social media, têm acesso a um heliporto, que oferece ligações em cinco minutos para o Aeroporto Internacional John F. Kennedy pelo preço de uma corrida de Uber…
Mas a nova geração de escritórios de elite não se restringe à zona mais cara de Nova Iorque. Em Londres, os proprietários da 105 Victoria Street conseguiram criar nos espaços de trabalho uma área verde equivalente a 14 campos de ténis onde não falta até uma espécie de trilho que a empresa batizou de pista de “walk-and-talk” e na Merdeka 118, um arranha-céu em construção em Kuala Lumpur, vai ser instalada uma das plataformas de observação mais altas do mundo.
Apenas alguns exemplos da criatividade e da marca diferenciadora em alguns espaços onde o metro quadrado naturalmente disparou.
Antes da pandemia, a área efetivamente destinada aos postos de trabalho representava cerca de 60% do total de espaço do escritório, de acordo com um relatório da consultora imobiliária Cushman&Wakefield. Mas as coisas mudaram consideravelmente. Agora, os escritórios novos e remodelados usam, em média, metade do seu espaço para zona de trabalho e aumentaram de 5% para 20% a área destinada aos chamados ‘amenities’, expressão importada do universo hoteleiro, e onde se incluem, por exemplo, salas de meditação, de ioga, jardins e terraços, mini-ginásios, balneários com chuveiros, nap rooms (sala da sesta), espaço para amamentação, serviços de baby-sitting e pet care, entre outros.
A garantia da sustentabilidade do edifício seja a nível energético, seja ao nível de bem-estar dos trabalhadores assegurado por certificados como o Breeam ou o Well, está também na ordem do dia.
“A questão da biofilia e da introdução de espaços verdes nos escritórios, a criação de diversas áreas colaborativas poderão ser considerados um luxo? Sim, mas hoje, para as empresas, mais do que um luxo, são uma necessidade pois só dessa forma se consegue reter talento”, sublinha Joana Couto, Associate Director do departamento de Arquitetura da consultora Savills . E, por cá, ainda que numa escala menos exuberante, também as organizações acompanham a tendência. “Sem dúvida que existe uma quantidade crescente de projetos de reconfiguração de espaços de trabalho em multinacionais, em empresas 100% nacionais e até estatais”, garante a responsável.
E se há espaços imprescindíveis em qualquer projeto atual como é o caso das salas que promovam o brainstorming e o sentimento de pertença, há outros, que já começam também a ser concebidos por cá, mas que ainda são menos usuais. “Tudo depende da escala da empresa. As salas de amamentação, por exemplo. Ou a ‘ioga room’ e até salas de oração, mais comuns em multinacionais onde existe um ambiente multicultural onde o respeito pela diferença é refletido no espaço de trabalho”, realça a arquiteta da Savills.
Para Carlos Cardoso, responsável pela Tétris, empresa de design e construção do grupo JLL, esse foi “o grande legado” deixado pela pandemia. “Os escritórios estão a deixar de ser meros depósitos de pessoas e a transformarem-se em espaços únicos que passam a mensagem dos valores e da cultura da própria empresa”.
Cientes da necessidade de atrair e manter trabalhadores de uma geração a quem importam outro tipo de valores e interesses, “as empresas nestas áreas que promovem a comunicação entre as equipas, num ambiente onde apetece estar, numa lógica de “feels like home”. A antítese dos escritórios banais e meramente funcionais do passado recente.
Um dos mais impactantes e recentes projetos da Tétris, a sede da Natixis no Porto, reflete bem essa realidade. A instituição bancária francesa quis transformar o seu espaço de trabalho numa experiência multicultural e onde se pode ‘viajar’ sem sair da Invicta.
À Tétris coube a missão de recriar em dois dos pisos do edifício 12 cidades de diferentes continentes a que chamou de Villages. Ali, os colaboradores podem “viajar” pelas cidades de Manaus, Santiago, Dakar, Paris, Porto, Mascate, Cidade do México, Shanghai, Tóquio, Londres, Bangalore e Brooklyn. O conceito ocupa mais de 3.800 m2, com uma lotação de perto de 200 pessoas.
“E o luxo, muitas vezes, é isto – um espaço diferenciador onde as pessoas se sintam bem e que lhes permita desenvolver um sentimento de pertença”, rematou ainda o responsável da Tétris.