Foram precisos cerca de três décadas e uma agenda marcadamente pela igualdade de género para ver uma mulher ganhar o prestigiado prémio Secil de Engenharia Civil. A distinguida foi Marisa Ferreira, engenheira do projeto de estruturas da empresa Fase- Estudos e Projectos SA, pela autoria do projeto do Terminal de Cruzeiros de Lisboa.
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“Pela primeira vez, em quase 30 anos de história do Prémio Secil este galardão, reconhecido como o prémio referência de engenharia civil em Portugal, é atribuído a uma mulher”, refere, em comunicado, a empresa cimenteira a quem, juntamente com a Ordem dos Engenheiros coube a missão de selecionar e distinguir os candidatos.
“O Edifício do Terminal de Cruzeiros de Lisboa, construído entre as colinas da cidade e o rio, é hoje um elemento incontornável na beira-rio nascente da cidade. As soluções de engenharia encontradas permitiram realçar os aspetos arquitetónicos, respeitar alguma da história do local e garantir os exigentes requisitos funcionais e de durabilidade da obra”, sublinhou Carlos Pina, Presidente do júri, sublinhando que “as fundações do edifício são um dos elementos mais marcantes desta solução de engenharia e a sua conceção e execução foram muito influenciadas pelas condições geotécnicas do local e pela necessidade de garantir a necessária resistência sísmica”.
Licenciada e com mestrado em engenharia civil pela Universidade do Minho, Marisa Ferreira recebeu uma bolsa de estudo de seis meses na Universidade Politécnica da Catalunha, em Espanha, onde frequentou as disciplinas do ramo de Estruturas.
“No seu currículo conta com um conjunto de obras emblemáticas em Portugal, tendo colaborado com alguns dos maiores arquitetos portugueses. Entre os projetos de maior relevância destacam-se o Museu da Diáspora, o Centro de Congressos de Gaia, o Sines Data Center, as Torres de Oeiras e a Central do Freixo, no Porto, e também alguns projetos noutros países como é o caso do Belgrado Concert Hall e do NUMO Museu, em Santiago do Chile”, detalha a Secil no seu comunicado.
“É gratificante verificar que todas as horas de trabalho são compensatórias. O Terminal de Cruzeiros de Lisboa deve ser visto como um elemento que respeita a cidade, promove a arquitetura e valoriza o melhor que a engenharia pode dar”, comentou Marisa Ferreira, através do mesmo comunicado da Secil.
A solução estrutural do edifício do Terminal de Cruzeiros de Lisboa envolveu um processo de grande complexidade, nomeadamente no que respeita à ação antissísmica, e também de inovação. Foi identificada a necessidade de recurso a um betão leve, de forma a reduzir em 40% o peso da estrutura do edifício sem comprometer a sua resistência. Para o efeito, foi estabelecida uma parceria entre o arquiteto João Luís Carrilho da Graça, a Secil, o Grupo Amorim e o Itecons (Instituto de Investigação e Desenvolvimento Tecnológico para a Construção, Energia, Ambiente e Sustentabilidade) para conceção de um betão branco com granulados de cortiça, substancialmente mais leve e com características térmicas melhoradas, fornecido em obra pela Secil Betão.
Este betão com cortiça é também mais ecológico e sustentável, decorrente da utilização de um material natural reciclado – o pó de cortiça – sem emissões de C02 associadas, reduzindo a pegada carbónica global do edifício.
Atualmente concessionado à LCT Lisbon Cruise Terminal, a obra tem como dono a Administração do Porto de Lisboa (APL), o projeto de arquitetura é da responsabilidade do arquiteto João Luís Carrilho da Graça e a construção ficou a cargo da empresa Alves Ribeiro com fiscalização do Focus Group.
Recorde-se que a Secil instituiu o Prémio Secil Arquitetura em 1992 e Engenharia Civil em 1995, que é hoje reconhecido como uma referência em Arquitetura e Engenharia Civil em Portugal, contando, desde o início, com o Alto Patrocínio da Presidência da República.