Atraiu 5,6 mil milhões de euros em cerca de uma década e estimulou a revitalização do centro de Lisboa mas foi uma das estratégias de captação de investimento imobiliário mais politizadas pelo seu impacto nos preços de habitação nas zonas mais disputadas. Mas estarão os vistos Gold destinados a desaparecer agora que, desde o início do ano, passaram a estar inacessíveis à compra de habitação nas zonas de maior densidade? Longe disso. O mercado está a ajustar-se e a procura está ao rubro em zonas de litoral mas com baixa densidade construtiva (de que é exemplo a Comporta ou a Costa Vicentina), disse à Visão David Moura-George, diretor-geral da Athena Advisers, em Portugal. Mais: no segundo semestre deste ano vão começar a ser anunciados projetos no centro de Lisboa, para vistos Gold mas estruturados em apartamentos turísticos, uma das formas permitidas nesta alteração legislativa para manter a captação dos golden Visa.
“No último trimestre de 2021 foi uma loucura total com os vistos Gold… As pessoas achavam que o programa iria acabar para sempre mas já começaram a perceber que não é bem assim… Ainda é possível comprar no Algarve e até em Lisboa mas de uma outra forma. Só que ainda não se passou de forma clara essa mensagem”, destaca o responsável da Athena.
O projeto Lisbon Jasmim está a ser comercializado pela Athena Advisers
A aquisição de ativos comerciais, “seja uma loja, um escritório ou um apartamento turístico” por um valor superior a meio milhão de euros permite a obtenção de um visto. Outra opção passa por adquirir casa numa zona de baixa densidade, não forçosamente no interior.
Os registos mais recentes da faturação da Athena Advisers atestam já esta nova realidade. Dados antecipados à Visão mostram que a consultora internacional Athena Advisers obteve um aumento na ordem dos 20% na procura por produtos comerciais em Lisboa e no Porto e de cerca de 25% por produtos em regiões de baixa densidade ainda elegíveis para o programa, entre as quais, Costa Vicentina, Melides, Comporta e Ilhas.
No setor comercial e de acordo com a Athena Advisers, os produtos mais procurados são lojas e escritórios com tickets de investimento entre €500.000 e €750.000, “preferencialmente com ocupantes de referência que ofereçam confiança e estabilidade, que propiciem um bom retorno financeiro e que tenham contratos de arrendamento de longa duração, entre os 5 e os 20 anos”, realçou o diretor-geral da empresa, acrescentando que a consultora está a acompanhar clientes de diversas nacionalidades, entre os quais americanos, brasileiros, chilenos e sul africanos.
Esta dinâmica está também a ter impacto na oferta de produto imobiliário estruturado especificamente para apartamentos turísticos, onde o investidor compra uma casa (ou mais) num valor global acima dos 500 mil euros, entrega-o para gestão turística, pode usufruir do seu espaço durante algumas semanas durante o ano e consegue obter na mesma o visto Gold. “E na prática é exatamente isto que muitos deles querem”, acrescentou ainda David Moura-George.
Esta forma de captar investimento direcionado para pessoas oriundas de países não-comunitários está a estimular o aparecimento de projetos no centro de Lisboa. “No segundo semestre deste ano vão começar a surgir cada vez mais projetos de promoção imobiliária para apartamentos turísticos em Lisboa”, adiantou o responsável, dando como exemplos as zonas de Alcântara, da Rua Alexandre Herculano e até mesmo na Avenida da Liberdade.
A constituição de fundos de investimento, de private equity, está também a ganhar força na atribuição do Golden Visa, permitindo continuar a requerer o visto através da aquisição de imóveis residenciais em zonas com restrições, como Lisboa e Porto, embora o montante mínimo de investimento tenha subido de €350.000 para €500.000 no início de 2022.
“A mensagem que se está a passar para o mercado é que o programa Golden Visa acabou, mas em boa verdade ele apenas foi alterado, está simplesmente a evoluir. Enquanto destino cada vez mais procurado para a compra de imobiliário, Portugal continuará a captar investimento estrangeiro e continuará a ter boas oportunidades para oferecer em áreas cada vez mais diversificadas”, rematou ainda o diretor-geral da Athena Advisers em Portugal.