Se a imaginação consegue criar, então é porque pode existir; se pode existir é porque pode valer dinheiro. E se pode valer dinheiro então merece estar num dos stands de startups da Web Summit. Eis seis startups com negócios arrojados – até mesmo para os padrões da maior mostra de empreendedorismo da Europa, que terminou esta quinta-feira.
Cyberfishing
Egor Pchelnikov nasceu na Rússia, mas foi para os EUA para ajudar todo o mundo a pescar melhor. E foi com essa intenção que, em janeiro, criou a Cyberfishing – e começou a comercializar um sensor que se acopla a uma cana de pesca com o objetivo de obter localizações, temperaturas, hora, fases da lua e outros indicadores que podem determinar o sucesso de uma pescaria. Em 11 meses, a Cyberfishing tem dado várias mostras de potencial, com quatro prémios internacionais (um deles na UE, outro na prestigiada feira CES, de Las Vegas). O pequeno dispositivo tem vindo a ser comercializado no próprio site da empresa com um preço de 79 euros – e esse preço não impediu mais de 10 mil encomendas em todo o mundo.
O modo de funcionamento é simples: o dispositivo dispõe de GPS, acelerómetro, e diferentes sensores atmosféricos e envia os dados que recolhe para uma app de telemóvel através de bluetooth. Para registar os dados num novo local basta fazer um clique no dispositivo; com dois cliques o utilizador pode indicar se apanhou peixe ou inserir outras notas adicionais. À medida que os dados vão chegando, a app vai mostrando no mapa os diferentes locais de pesca visitados pelo utilizador.
«Só temos um concorrente e está nos EUA. Acreditamos que temos uma abordagem mais inovadora. Por exemplo, o nosso sensor conta o número de lançamentos efetuados sem pescar um peixe. O que é um indicador importante para as pessoas saberem que um determinado local não é bom para pescar», refere Egor Pchelnikov.
Impossible Diamond
A Impossible Diamond está apostada em mostrar que os diamantes não são apenas os melhores amigos das mulheres. Até porque, se o negócio da startup americana correr como previsto, os diamantes podem tornar-se em breve um dos melhores amigos do ambiente. Como é que isso é possível? Ryan Shearman, um dos responsáveis da jovem empresa, explica: «produzimos diamantes a partir do dióxido de carbono (CO2) que captamos na atmosfera». A produção de diamantes tem por base a bombas de ar que fazem a sucção do CO2 que se encontra na atmosfera. Estas bombas de ar estão equipadas com filtros que retêm o CO2, que é enviado posteriormente para um sistema onde é purificado e convertido ao estado líquido. Depois há um recurso a hidrogénio e plasmas que permitem criar cristais de diamante.
A Natureza demora milhares de anos a produzir um diamante no subsolo – mesmo que seja minúsculo. A Impossible Diamond promete encurtar esse período de produção: «Em seis semanas, conseguimos produzir um diamante de anel de noivado», estima Shearman.
No que toca a preços, a aposta recai num posicionamento a meio caminho do valor pedido pelos diamantes obtidos em minas e dos diamantes produzidos em laboratório, que Shearman garante que são tão ou mais poluentes que aqueles que são extraídos a partir de minas. Pelo contrário, os diamantes da Impossible Diamond extraem poluição da atmosfera – e curiosamente conseguem fazê-lo com a mesma eficiência tanto da mais poluída das urbes como da mais densa da floresta.
As primeiras bombas de ar que capturam CO2 já começaram a ser testadas em cidades europeias. Shearman acredita que em breve terão lugar os primeiros testes nos EUA. Aos interessados resta lembrar alguns números: um diamante de um carate é produzido com 0,2 gramas de carbono, sendo que o carbono corresponde a 27% da composição do CO2.
NokNox
Em sete meses de atividade, a NokNox garantiu 360 condomínios e 56 mil unidades residenciais no Brasil e nos EUA. Rafael Mendes, que trabalha para a startup brasileira, admite que esta plataforma criada para facilitar a identificação de pessoas em edifícios e recintos começou por ganhar os primeiros clientes devido às contingências das grandes cidades do País Irmão, mas recorda que a expansão para os EUA foi pensada de forma a chegar a hotéis, centros empresariais, ou espaços de partilha de local de trabalho.
A forma de funcionamento é fácil de compreender por toda a gente que tem telemóvel: à entrada de cada edifício ou recinto, é colocado um QR Code, que em articulação com fotografias, dados biométricos, ou número fiscal. A partir deste processo, o gestor de um condomínio ou de um determinado espaço passa a identificar cada pessoa – e no limite pode abrir e fechar portas remotamente (a NokNox tem parcerias com fornecedores de dispositivos automáticos que operam neste segmento). A aplicação usada pelos gestores dos edifícios também pode ser usada para obter dados úteis para a gestão dos vários espaços.«Este negócio começou com o facto de o nosso CEO odiar ter de abrir a porta aos empregados. A solução passou por levar o intercomunicador (que costuma estar nas portas) para o telemóvel», lembra Rafael Mendes.
5D Wireless
As redes de quinta geração de telemóveis (5G) ainda estão no início, mas a 5D Wireless já desenvolveu uma tecnologia para redes sem fios que promete cerca de três vezes mais rápida – na menos auspiciosa das hipóteses. Onde as redes 5G garantem 1 Gbps, as futuras redes que usam a tecnologia 5D Wireless podem chegar aos 3 Gbps; mas se o gestor da rede decidir usar oito antenas com técnicas de Multiple Input Multiple Output (MiMo) então a largura de banda que usa a tecnologia da 5D Wireless chega a uns estrondosos 10 Gbps – quando a 5G, nos cálculos de Denkovski, não passará dos 3,5 Gbps neste cenário MiMo.
A tecnologia dá pelo nome de NGWI – e segundo a os responsáveis da 5D Wireless não tem ainda concorrentes no mercado. «Temos uma tecnologia e um método de processamento de sinal que são únicos. As redes 5G modulam as ondas hertzianas com tecnologia OFDM (Orthogonal Frequency Division Multiplexing / Multiple Access), mas nós temos uma forma diferente de modular as ondas hertzianas, recorrendo à tecnologia NGWI. O que permite gerar novas ondas para comunicar», explica Daniel Denkovski
A startup sedeada em Skopje, Macedónia, já solicitou o registo de uma patente. O momento atual tem em vista a captação de investidores. O modelo de negócio da empresa macedónia prevê o licenciamento da tecnologia a produtores de equipamentos de rede, chips e operadores de telecomunicações. O que só deverá acontecer dentro de dois anos.
Fjord
Se tudo correr como planeado, a Fjord vai começar a operar com a instalação das primeiras redes de dispensadores de água em algumas cidades alemãs. Para a startup será a prova de fogo derradeira: será que os consumidores estão dispostos a pagar uma subscrição mensal (valor ainda não revelado) para passarem a poder beber a água que quiserem em dispensadores públicos?
A água distribuída pela rede de dispensadores vem da rede pública – e esse fator leva os mais incautos a julgarem que alguém está a tentar fazer negócio com o que costuma ser fornecido de graça, mas a startup germânica faz questão de mostrar que há uns quantos elementos distintivos do futuro serviço: a água é filtrada 99,9%, «o que permite eliminar «bactérias, germes, metais pesados ou microplásticos», refere Anita Tauberger, responsável da Fjord.
Mas há mais: cada dispensador está apto a disponibilizar água com ou sem gás, à temperatura ambiente ou fresca, entre outras variantes que possivelmente serão criadas nos tempos mais próximos. Cada uma destas “fontes 2.0” estão conectadas à cloud – e só os utilizadores com garrafas equipadas de chips RFID podem ir abastecer-se de água. Através de uma app, o utilizador pode saber os consumos de água que vai fazendo – ou alterar as preferências, sempre que quiser.
A Fjord está convicta de que pode transformar a obrigatoriedade de usar garrafas específicas num trunfo comercial: «Queremos que estas garrafas sejam cool e funcionem como indentificadores de um estilo de vida ou de uma comunidade», concluir Tetiana Olar, da Fjord.
Crytpterium
O Crypterium nasceu em Londres com o propósito de se tornar o primeiro banco do mundo especializado em criptomoedas. Exagero ou não, a iniciativa empresarial lá vai fazendo o seu caminho: «temos 500 mil clientes em 108 países», garante Matias Lapuschin, responsável pelo Marketing e Comunicações do criptobanco.
Atualmente, o Crypterium permite fazer transações e abrir contas bancárias com as seis mais populares criptomoedas do momento (obviamente, com as bitcoins à cabeça). «Estamos a tentar captar investidores para passar para o próximo nível», explica Lapuschin.
Por lidar com criptomoedas, o Crypterium teve mais dificuldade em regularizar a atividade. O que o obrigou a solicitar uma licença às autoridades da Estónia, que já permitem este tipo de atividade. O plano de evolução para os próximos anos contempla uma aposta no e-money, que tanto deu que falar na Web Summit – e que mais não é que dinheiro convencional em suporte digital.