Nos últimos anos, Portugal tem sido um dos países mais avançados na mobilidade elétrica, destacando-se pela implementação de uma rede interoperável que permite aos utilizadores carregarem os seus veículos em qualquer ponto da rede pública com um único cartão ou aplicação. Porém, recentemente surgiu uma proposta que impõe alterações significativas ao modelo atual, em parte necessárias, mas que no formato preconizado poderão comprometer o caminho já percorrido.
O Modelo Português: Um Exemplo de Interoperabilidade
Ao contrário de outros países, como Espanha, onde a rede de carregamento é fragmentada e a interoperabilidade ainda é um desafio, Portugal desenvolveu um sistema que simplifica a experiência do utilizador ao possibilitar que este utilize um único cartão ou app para aceder a todos os postos de carregamento da rede pública, independentemente do seu operador (OPC) ou comercializador de eletricidade (CEME). Na génese, trata-se de um sistema semelhante ao da SIBS no setor bancário que, para além da universalidade de acesso, garante uma maior simplicidade de utilização e promove a competitividade e inovação, dando opção de escolha ao utilizador.
Em Espanha, a ausência de uma infraestrutura centralizada que permita a interoperabilidadecria desafios significativos para os condutores, obrigando-os a ter múltiplas contas em aplicações e/ou cartões e promovendo uma experiência errática, frustrante que chega a ser desesperante (falo por experiência própria).
Evoluir na Direção Certa
Creio que é claro para todos que o modelo português de mobilidade elétrica pode ser melhorado em diversos aspetos e tem de evoluir, nomeadamente na simplificação do processo de faturação e modernização das infraestruturas de carregamento, especialmente pela desburocratização do processo de ligação dos postos de carregamento. É dramático que possam existir postos prontos a funcionar, mas que ficam, às vezes quase dois anos, à espera de terem licenças e autorizações que permitam a ligação à rede e a sua utilização.
Contudo, abandonar o sistema interoperável em favor de um modelo mais fragmentado só pode resultar num retrocesso. Se, nos dias de hoje, a “ansiedade de autonomia” ainda é um bloqueio à transição para uma viatura elétrica, a tendência será inevitavelmente de regressão quando o utilizador ficar limitado à oferta do seu operador e não puder aceder a 100% da rede. O que seria se nos dissessem que o nosso cartão multibanco vai deixar de ser aceite em todas as Caixas Automáticas e em todos os Terminais de Pagamento? O fim da interoperabilidade na Mobilidade Elétrica é mais ou menos igual. Dá que pensar…