Vivemos numa era onde o invisível é, muitas vezes, confundido com o inexistente. No mundo digital, a ausência de sinais de alerta não significa ausência de perigo.
É um erro comum, mas que pode sair caro, seja na vida privada, nos negócios ou até mesmo em investimentos. Num tempo em que a cibersegurança é cada vez mais desafiada por tecnologias emergentes, a pergunta que deve fazer-se é simples: a criptografia que protege os meus softwares e dispositivos é realmente segura?
Com a chegada dos computadores quânticos ao mercado, anunciada pela Microsoft em parceria com a Atom Computing para 2025, a resposta pode ser inquietante. Estes sistemas revolucionários prometem resolver problemas que os computadores tradicionais nunca poderiam solucionar. Mas, e se o problema que eles resolverem for quebrar a criptografia que protege os seus dados, as suas transações ou até os seus investimentos? Se confia cegamente na sua criptografia, talvez seja hora de pensar duas vezes.
Vamos por partes: se a sua criptografia for baseada em algoritmos como RSA, Diffie–Hellman, ou Elliptic Curve Cryptography, entre outras, saiba que o seu ‘cofre digital’ está longe de estar protegido contra as capacidades de um computador quântico. E o pior? Muitos já apostam que este será o ponto fraco que permitirá aos hackers uma nova era de ataques devastadores.
“Eu não tenho nada a esconder”
Já ouviu alguém dizer que não tem nada a esconder? Talvez até tenha pensado o mesmo. Mas imagine se todas as suas conversas privadas, fotografias ou até os dados do seu cartão de crédito fossem acedidos por alguém com intenções maliciosas. Os ataques cibernéticos silenciosos acontecem todos os dias, mas sem as ferramentas certas para os detetar, é como deixar a porta da sua casa destrancada… sem saber.
Se a criptografia que protege os seus dados for quebrada, a sua privacidade pode desaparecer em poucos minutos. Tudo o que acredita estar seguro: mensagens, e-mails, dados financeiros… tornam-se públicos ou, pior, armas para chantagem.
As empresas
Empresas que acreditam estar protegidas apenas porque “nada aconteceu até agora” estão a cometer um erro perigoso. Um ataque não detectado pode significar o roubo de informações sensíveis dos clientes ou a paralisação completa das operações. E sim, a criptografia tradicional usada por muitas organizações será insuficiente face às capacidades da computação quântica.
Sem ferramentas que forneçam visibilidade em tempo real sobre as tentativas de intrusão, as empresas ficam cegas perante ameaças silenciosas. E, quando o ataque finalmente é descoberto (se for…), os danos já são irreversíveis: desde perda de confiança por parte dos clientes até multas regulatórias e custos milionários de recuperação.
Estará a segurança dos seus investimentos em criptomoedas ou blockchain garantida?
O setor das criptomoedas e do blockchain é frequentemente apresentado como o futuro da segurança digital, graças à sua dependência de algoritmos criptográficos avançados. Mas será que estes sistemas são realmente à prova do tempo?
A chegada da computação quântica levanta questões importantes. Por exemplo:
- O que acontece se as chaves privadas das carteiras digitais puderem ser decifradas rapidamente?
- Como é que as transações e os contratos inteligentes que dependem de criptografia serão afetados?
- Será que o blockchain continuará a ser tão seguro como acreditamos hoje?
Não se trata de fazer previsões definitivas, mas sim de questionar o quão preparados estamos para esta possível mudança. O setor está a trabalhar em alternativas como criptografia resistente à computação quântica, mas será que estas soluções estarão prontas antes que a ameaça se concretize? Estas são questões que os investidores devem ponderar cuidadosamente.
E agora?
O que podemos afirmar com certeza é que as ameaças digitais estão a evoluir. A computação quântica pode representar tanto uma oportunidade como um risco, dependendo de como nos preparamos. A chave está em entender as limitações da proteção criptográfica atual e estar disposto a investir em criptografia pós-quântica ou quântica, que foram especialmente desenvolvidas e standardizadas pela NIST (National Institute of Standards and Technology).
Não há espaço para complacência na cibersegurança. O silêncio pode ser enganador, e a falta de ação pode sair muito cara. A verdadeira questão é: está preparado para proteger os seus dados no ‘futuro digital’ que já começou?