Cada vez mais frustrados com as associações ambientalistas tradicionais a que pertencíamos, por estas se recusarem discutir soluções baseadas em tecnologia, um grupo de ambientalistas fundou a RePlanet. Uma associação de cariz internacional que baseia o debate na evidência científica.
A pouco e pouco descobrimos que não estávamos sozinhos. Havia vozes desiludidas com o ambientalismo praticado por todo o globo por serem considerados tabu temas como os Organismos Geneticamente Modificados (OGM), a Energia Nuclear, e o Rewilding (restauração ativa de ecossistemas). Depois de terem sido criados núcleos em França, Alemanha, Países Baixos, Suécia, Finlândia, Reino Unido, Austrália, a RePlanet chega agora a Portugal.
Na RePlanet acreditamos na prosperidade global. Igualdade de oportunidades, independentemente de onde se nasça. Defendemos a apresentação de soluções em vez de apenas apontar os problemas. Defendemos que as soluções tenham em conta todas as implicações noutras partes do mundo.
Um exemplo de políticas da UE com implicações noutras partes do mundo é a iniciativa FarmToFork. Esta iniciativa prevê aumentar a percentagem de agricultura biológica no mercado Europeu dos atuais 9% para 25%. A agricultura biológica necessita de mais área dedicada porque tem rendimentos consideravelmente inferiores. Necessita de mais água e mais diesel por parte dos agricultores por ser mais sensível. É, portanto, menos sustentável. Para poderem vender no mercado europeu, agricultores de países em vias de desenvolvimento são forçados a apostar em agricultura biológica pondo em causa a sua própria segurança alimentar. Uma política europeia que melindre o bem-estar de terceiros tem que ser considerada desastrosa. Como recentemente se viu no Sri Lanka, que adotou políticas sem fundamento científico, seguir ideologias arcaicas é prenúncio de tragédia humana. A introdução de colheitas de OGMs, mais resistentes a pestes, mais resistentes à seca e ao calor, introduzem um fator de resiliência e aumentam a segurança alimentar. A RePlanet defende a introdução de colheitas com provas dadas, como o arroz dourado, para combater a malnutrição. Se por um lado é impossível alimentar o mundo exclusivamente com agricultura biológica, há boas práticas que a agricultura intensiva deverá adotar. Um melhor balanço de colheitas e técnicas de aragem na agricultura intensiva pode reduzir o impacto na biodiversidade local. É um balanço delicado.
Para além dos OGMs, poucas tecnologias são mais incompreendidas do que a energia nuclear. Devido à sua natureza despachável (controlar quando se produz) e baixíssimas emissões, a energia nuclear tem de ser considerada na transição energética. Estudos de instituições internacionais como o Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas, Agência Internacional de Energia, JRC (painel de peritos que aconselha a Comissão Europeia), as Nações Unidas, entre outros, apontam que seja uma das formas mais seguras e económicas de gerar eletricidade. Tendo em conta todos os estudos de instituições isentas, a RePlanet defende que a energia nuclear deve fazer parte da matriz energética do futuro, aproveitando a sua baixa pegada extrativa e pouca utilização de área.
Nos planos da RePlanet incluem-se várias campanhas. Fomos das poucas associações ambientalistas a fazer campanha para a inclusão da energia nuclear na Taxonomia Europeia. Após o início da guerra na Ucrânia lançámos as campanhas Switch Off Putin: como nos vermos livres dos produtos energéticos russos e como combater a insegurança alimentar dos próximos tempos. Alguns dos nossos membros dedicam-se ao apoio humanitário na guerra.
Recentemente fizemos uma sessão internacional com convidados com pontos de vista acerca do que pode ser o novo ambientalismo, baseado em evidência científica. Fizemos também uma sessão em português, para aproximar a organização ao nosso país. Queremos comunicar o que existe de novo em termos de evidência científica, para planearmos o melhor rumo a seguir enquanto sociedade.
Temos soluções para ajudar a combater as alterações climáticas e sermos bem-sucedidos na transição de combustíveis fósseis para fontes de baixo carbono. Com maiores aproveitamentos agrícolas, mais geração de eletricidade de baixo carbono e eficiência energética podemos libertar áreas para as dedicar à restauração de ecossistemas.
Temos de repensar, enquanto sociedade, como abordamos a evidência científica.
*O artigo teve o contributo de vários elementos da Replanet