Para os mais distraídos, a tecnologia chegou à mediação imobiliária com a pandemia do COVID-19. De repente, as reuniões são por videoconferência e rápidas. As visitas são virtuais e igualmente eficazes. Os contratos são assinados digitalmente. As vendas, seladas com um aperto de mão, são feitas “à distância”. O admirável mundo novo. Que não, não é de agora. Há muito que a tecnologia tomou de assalto o tradicional negócio da mediação imobiliária, ainda que para muitos isso passasse despercebido. Até março de 2020.
Ainda assim, a tecnologia que descobrimos agora não só não é nova – videoconferência, visitas virtuais, vídeos com drone, leitores de cartões de cidadão, certificados digitais – como corremos o risco de continuar a passar ao lado do essencial.
O que é radicalmente novo não é o Zoom ou Microsoft Teams. O que é radicalmente novo é que não precisamos de estar todos à espera uns dos outros à segunda de manhã para a reunião semanal e que podemos fazer o mesmo ainda antes de sairmos de casa e não numa manhã, mas em 30 minutos. O que é radicalmente novo não é o WhatsApp, através do qual posso mostrar a um cliente da Austrália aquele T2 na Ericeira. O que é radicalmente novo é que não preciso de esperar que ele apanhe o avião para vir a Portugal para saber se é mesmo aquele apartamento que ele quer.
O vídeo com drone não é novo. O que é mesmo 2020 é que o meu comprador pode ficar a saber que aquela moradia que lhe propus é encostada à autoestrada, pelo que não precisamos de perder tempo e dinheiro a lá ir se ele me dissesse que queria sossego.
Assinar um contrato com recurso a um leitor de cartões de cidadão ou a um certificado digital não é novo. O que é novo é que a tutela do setor aceite que cópias digitalizadas de contratos de mediação imobiliária tenham a mesma força probatória que originais.
O que era mesmo radical era que as escrituras pudessem não ser presenciais, o que teria evitado que o setor da mediação imobiliária parasse durante dois meses.
E o que era mesmo inovador era que em junho não voltássemos a fevereiro. Que nos deslocássemos menos e fizéssemos menos visitas em vão. Que a tecnologia beneficiasse o consultor e o cliente. Que, se a tecnologia me permite dar-lhe uma estimativa de valor com recurso ao software de uma proptech, a inteligência artificial ou big data, eu não o obrigue a ter duas reuniões presenciais comigo.
Que o consultor possa ter, todos os dias e sem se deslocar, acesso a conteúdos de qualidade, que o promovam enquanto profissional. Que clientes vendedores vendam com a máxima eficiência e o mínimo incómodo. Que os consultores possam ter acesso a informação transparente, credível e em tempo real para tomarem a melhor decisão de investimento. Que o Estado nos force a menos burocracia e a mais serviço. Esta pode ser verdadeiramente a revolução de abril de 2020.