Ano novo, aumento de salário à vista. O ano de 2023 vai trazer uma subida de 10% nos salários tecnológicos em Portugal quando comparados com os valores pagos em 2022. A aposta de empresas estrangeiras em centros de desenvolvimento locais, o maior investimento das empresas portuguesas em ferramentas e inovação tecnológica, e a ‘guerra’ entre empresas para recrutar profissionais com experiência ajudam a justificar a subida.
A Exame Informática reúne, na tabela abaixo, a informação salarial para aqueles que são alguns dos empregos tecnológicos mais populares no mercado português. Os valores têm por base o relatório anual de salários para tecnologias da informação (TI) da Robert Walters, consultora especializada em recrutamento.
A tabela tem uma função de pesquisa para facilitar a procura das posições e também do valor salarial. As profissões estão designadas em português e inglês.
Os valores apresentados na tabela são relativos ao intervalo para os salários brutos anuais – ou seja, aquilo que o trabalhador ganha antes de impostos e outras deduções. Os valores também incluem subsídios de férias e Natal, mas não contemplam valores relativos a bonificações que os funcionários venham a receber nas empresas.
Programadores, procuram-se
Fabienne Viegas, líder do departamento de recrutamento para tecnologias da informação da Robert Walters, diz em entrevista à Exame Informática que a informação salarial apresentada resulta de uma base de dados própria que cobre 70% a 75% dos profissionais de novas tecnologias em Portugal – quantas pessoas inclui, ao certo, não revela. A consultora entrevista regularmente profissionais de TI para perceber quanto recebem e quais são as expectativas salariais caso mudem de emprego, e também participa ativamente no processo de recrutamento de várias empresas – sabendo, por isso, quanto estão dispostas a pagar para essas posições. Estes dados são depois cruzados com outras fontes de informação salarial, incluindo da rede social LinkedIn e de parceiros que monitorizam o mercado de trabalho a nível europeu.
“Tivemos um ano muito bom em termos de recrutamento de TI. Há muitas empresas estrangeiras a vir para Portugal, grandes empresas como a Boeing, a Volkswagen… Em Sines, ainda estão a construir os centros de dados, mas já estão a recrutar para esse projeto [anunciado em 2021]”, adianta a responsável da Robert Walters.
Fabienne sublinha que Portugal é, neste momento, um dos países a nível mundial nos quais é mais difícil recrutar para posições tecnológicas, devido à grande procura que tem havido por estes profissionais. “A guerra pelo talento está a aumentar”, garante, o que ajuda a justificar o aumento médio de 10% nos salários que a Robert Walters antecipa para este ano. Mas há mesmo quem vá mais longe: “Houve empresas que aumentaram os salários, algumas na casa dos 20%, para manter os funcionários”.
Há, no entanto, posições que este ano apresentam intervalos salariais mais baixos do que em 2022. Isto não significa, segundo a recrutadora, que estamos a atingir um pico no aumento de salários nas TI. As quebras salariais em algumas posições simplesmente representam uma quebra na procura por esse perfil de conhecimento tecnológico, o que faz com que não haja tanta movimentação no mercado, o que por sua vez tem um impacto negativo nas propostas salariais – as empresas até podem recrutar, simplesmente não estão dispostas a pagar tanto.
Numa altura em que as grandes tecnológicas norte-americanas – Amazon, Facebook, Twitter, Salesforce, entre outras – estão a eliminar dezenas de milhares de postos de trabalho, um reflexo da maior incerteza económica que se vive, a porta-voz da Robert Walters não antecipa que esses mega despedimentos venham a ter impacto no mercado tecnológico, incluindo o português, num efeito de ‘contágio’.
“Durante a crise, os profissionais de TI ainda são os profissionais mais procurados e isso cria outras oportunidades. Se as empresas têm dificuldades em diferentes áreas, normalmente começam a montar unidades de analítica de dados para perceber o que passa no negócio”, exemplifica. Isto aliado ao inevitável processo de digitalização dos negócios, faz com que até empresas de setores mais tradicionais procurem cada vez mais profissionais da área tecnológica.
A responsável aconselha ainda a que as empresas, sobretudo as portuguesas que não têm a mesma capacidade de investimento em salários das tecnológicas internacionais, apostem noutros benefícios que ajudem a atrair e a reter os trabalhadores. “Para os programadores, o projeto de desenvolvimento no qual vão trabalhar é importante. Para alguns candidatos é importante ter acesso a uma conta Udemy [plataforma de ensino online], para poderem atualizar-se. Os trabalhadores querem ter oportunidades e um plano de carreira. E diria que o trabalho remoto ou híbrido é o segundo elemento que mais valorizam”.
Experiência vale 100 mil euros
Segundo a listagem da Robert Walters, ter um emprego tecnológico significa ter um salário bem acima da média nacional – segundo dados do Eurostat, o salário médio em Portugal é de 19300 euros brutos anuais. Um dos intervalos salariais mais baixos na lista da consultora começa nos 28 mil euros brutos (administrador de sistemas com dois a cinco anos de experiência), mas quase todas as posições garantem acima de 30 mil euros anuais. E os trabalhos com salários de 50 mil euros anuais também são comuns na lista – como são exemplos os programadores iOS, os engenheiros de blockchain ou os cientistas de dados.
Há mesmo quem, na posição e empresa certas, e com vários anos de experiência, fature mais de 100 mil euros anuais: um gestor de um centro de operações de segurança informática e um arquiteto de dados podem ambos ganhar até 110 mil euros, enquanto um gestor de entrega de produto e software especializado em OutSystems pode ganhar até 100 mil euros brutos por ano.
Os campeões da lista da Robert Walters são os diretores de tecnologias da informação (CIO), cujos salários ascendem até 170 mil euros, os diretores de cibersegurança (CSO) e diretores de tecnologia (CTO), que podem receber até 150 mil euros por ano, e os diretores de segurança de informação (CISO), cujos ordenados podem ‘escalar’ até aos 140 mil euros. Mas para estes valores é essencial ter mais de 10 anos de experiência.
Fabienne Viegas revela ainda aqueles que são os perfis mais procurados pelas empresas atualmente: profissionais especializados em desenvolvimento de software, analítica de dados e ciência de dados. A estes juntam-se os especialistas em cibersegurança, cuja procura aumentou 160% no último ano.
Por fim, a responsável de recrutamento TI da Robert Walters identifica uma tendência que está a intensificar-se no mercado português – a dos profissionais independentes (freelancers). “No norte da Europa, 30% dos trabalhadores de TI são freelancers. Vejo isso a acontecer aqui também. Muitos querem ter um contrato seguro, mas isto vai mudar, os pagamentos [para os freelancers] são mais altos e tens diferentes oportunidades. Já vejo isso a acontecer aqui e vamos ver um aumento neste e no próximo ano”.