O mercado está a assistir a uma tendência aglutinadora por parte das grandes tecnológicas. As principais gigantes do setor gastaram só neste ano, segundo a empresa de análise financeira Refinitiv, 264 mil milhões de dólares (cerca de 225 mil milhões de euros ao câmbio atual) na compra de empresas rivais que custaram menos de mil milhões de dólares cada – um valor que é mais do dobro do que foi investido durante a ‘bolha das dotcom’ no início dos anos 2000. As fusões e aquisições surgem numa altura em que a Casa Branca e os organismos reguladores dos EUA viram as atenções para esta tipologia de negócios, nomeadamente para as operações realizadas pelas gigantes Apple, Facebook, Google, Amazon e Microsoft. Recorde-se que muitas vezes estas compras são vistas como uma forma de bloquear e ‘engolir’ os rivais, prejudicando a concorrência e os interesses dos consumidores.
A FTC, Federal Trade Commission, regulador americano para o mercado de valores mobiliários, revelou as conclusões de um outro estudo que analisou as fusões e aquisições de 2010 a 2019, no qual enfatiza uma década de atividade frenética neste segmento. Lina Khan, presidente da FTC, assume que o estudo “sublinha a necessidade de analisarmos os requisitos para registo destes negócios… e devemos identificar as áreas onde a FTC pode ter criado lacunas que estão a permitir injustificadamente que determinados negócios passem por baixo dos radares”, cita o ArsTechnica. Nestes dez anos, Apple, Google, Facebook, Amazon e Microsoft concretizaram 819 aquisições que não foram reportadas às autoridades porque não tinham de o ser, segundo os requisitos em vigor no que toca ao volume da compra.
Os dados compilados pela publicação Financial Times a partir da Refinitiv mostram que, desde o início do ano, registaram-se 9.222 transações para compra de startups avaliadas em menos de mil milhões de dólares, mais 40% do que os níveis de 2000. Mesmo as compras de empresas abaixo dos 92 milhões de dólares, valor até ao qual os negócios não precisam de ser comunicados, registaram um aumento recorde: 8.451 transações, mais de 66 mil milhões de dólares investidos e uma subida de 35% face ao ano anterior. Acima de um milhão de dólares, as cinco gigantes fizeram 616 compras, com mais de 75% destas a incluírem cláusulas anti-concorrência para essas empresas, fundadores e funcionários.
Barry Lynn, do Open Markets Institute, diz que “isto era completamente previsível – em tempos de dificuldade, as empresas que já estão em aperto, ficam ainda mais apertadas. Este tipo de negócio é mau porque torna as grandes corporações muito mais poderosas. Aumenta o seu poder sobre as pessoas que lá trabalham, sobre os mercados de capitais e sobre os investidores, bloqueando ainda a competição que pode trazer inovação”.
Rebecca Kelly Slaughter, da FTC, usou uma analogia para explicar a situação: “Penso nas aquisições em série como uma estratégia ao estilo [do jogo] Pac-Man: cada fusão individual, vista de forma independente, parece não ter um impacto significativo, mas o impacto coletivo de centenas de pequenas aquisições pode levar a um grande monstro monopolista”.
Segundo o Financial Times, Apple, Facebook, Amazon, Google e Microsoft recusaram comentar a notícia.