Os governos que optem por não lançar CBDCs (de central bank digital currencies ou moedas digitais de bancos centrais, em tradução livre) podem ver a sua autonomia monetária e sistema financeiro ameaçados pelas grandes empresas tecnológicas. O alerta vem do próprio Banco Central Europeu (BCE) que, embora sem nomear, está a referir-se a grupos como a Diem Association, que conta com a Facebook como principal apoiante, que se prepararam para lançar um piloto de uma moeda digital estável (stablecoin) nos próximos meses.
O BCE publicou um relatório datado de junho de 2021 no qual avisa para a ameaça que pode chegar sob a forma de “gigantes tecnológicos estrangeiros a potencialmente oferecer moedas artificiais no futuro”.
No caso do BCE, a CBDC será uma versão digital da sua própria moeda, o euro, cotada a um rácio de 1:1 face à moeda ‘tradicional’. Pieter Cleppe, analista da Property Rights Alliance e ex-responsável pelo think tank de Bruxelas Open Europe, tem outra interpretação da mensagem, lembrando que também a banca privada se sente ameaçada pela moeda digital do BCE: “Um euro digital vai reforçar o papel do BCE dentro do sistema bancário, em detrimento dos bancos privados. Isto significa que qualquer expansão monetária leva à inflação muito mais rapidamente, uma vez que os bancos privados não estão lá para evitar que todo aquele dinheiro flua para a economia real”, cita o Decrypt.
Este especialista avisa ainda que “tal como o iene digital da China, um euro digital do BCE destina-se a monitorizar os utilizadores. Isto é contrário ao espírito fundamental das criptomoedas que, no seu núcleo, pretendem libertar a moeda do controlo estatal”.
No caso das CBDC, o banco central pretende manter claramente a autoridade sobre os registos. Nas criptomoedas, recorde-se, os registos são mantidos em blockchain de forma descentralizada.
Os governos não parecem estar a sentir a pressa em lançar-se neste tipo de moedas: as Bahamas lançaram os seus dólares em outubro, na mesma altura em que a China estreou o piloto do iene digital, com o Reino Unido, Japão e o BCE a ponderarem igualmente a sua entrada nas moedas digitais.