O debate sobre os riscos de segurança relacionados com a implementação das redes de quinta geração móvel (5G) pode ter arrefecido, mas não está esquecido. É a própria Huawei, a empresa que mais tem estado no centro da polémica, que faz questão de trazer o assunto novamente para o campo mediático. A tecnológica chinesa pediu que sejam criadas regras de segurança e de transparência comuns, a nível internacional, para todos os fabricantes de equipamentos de infraestrutura 5G.
“A segurança por colaboração é completamente essencial. Precisamos de mais colaboração para ter mais garantias, mas também para saber como as empresas e as organizações podem ser mais transparentes. O que é crítico é que melhoremos as garantias e a transparência, que encorajemos as forças do mercado a incentivar os operadores de telecomunicações e os fornecedores de equipamentos de rede a aumentarem a barreira das garantias e da transparência”, defendeu Andy Purdy, diretor de segurança informática da Huawei nos EUA, num evento realizado nesta segunda-feira e no qual a Exame Informática participou.
O que a gigante chinesa pretende, na prática, é que sejam identificados standards, boas práticas e outros objetivos que sejam comuns a todos os fornecedores de equipamentos de rede 5G e que também sejam estabelecidos testes de conformidade e protocolos de segurança juntamente com os operadores de telecomunicações.
A Huawei também pede uma maior colaboração internacional na redução dos riscos e atividades maliciosas na área da segurança de redes de telecomunicações.
Segundo Johannes Drooghaag, consultor na área da segurança informática que participou no evento, já existem várias indústrias nas quais há standards comuns – como é o caso das classificações de segurança dos veículos na indústria automóvel – ou iniciativas de partilha de informação – caso das empresas de cibersegurança e antivírus, que partilham dados entre si. Dada a importância que a 5G vai ter no futuro das comunicações, seria importante, sublinha, que existisse uma abordagem mais concertada e não tão partida, quase de base nacional, como acontece atualmente.
“Se a segurança é uma preocupação, vamos criar, enquanto indústria, uma estrutura de segurança com a qual todos nos comprometemos e trabalhamos, e assim todos podemos ser testados”, considera o analista holandês. Além disso, o consultor considera que os fornecedores de equipamentos de rede e os operadores de telecomunicações precisam de trabalhar juntos a longo prazo e não tanto com o foco no imediato. “Desde que eu use este equipamento, continuas a criar correções de segurança e eu garanto que são instaladas”, defende sobre aquela que deve ser a postura das empresas de telecomunicações perante os fornecedores relativamente a questões de segurança de infraestrutura.
Se não houver este esforço conjunto, então o mais provável é que se crie uma situação semelhante à do Windows 10 da Microsoft: a empresa até pode disponibilizar as atualizações de segurança, mas se não forem implementadas pelos utilizadores e pelas empresas, quando uma vulnerabilidade for explorada saem todos prejudicados.
“Tenho a certeza de que independentemente das sanções, a Huawei não vai sair do mercado [da 5G], vai continuar a ser um vendedor. Mas se os cortamos enquanto fornecedores, se os cortarmos da investigação e validação, vamos criar uma ameaça, porque cortamos um parceiro que tem sido inovador, em muitos elementos eles são a empresa mais inovadora da indústria”, considerou ainda Johannes Drooghaag.
Já Hosuk Lee-Makiyama, diretor do Centro Europeu de Economia Política Internacional, lembrou que a Huawei só representa 8% das receitas totais da venda de equipamentos de redes a nível global, um valor que se justifica por dois motivos: alguns dos países que já avançaram com a implementação de redes 5G, como os EUA, Reino Unido e Austrália, ou baniram ou colocaram restrições aos produtos da empresa chinesa; e na Europa, o mercado no qual a Huawei mais pode faturar, a implementação da 5G está atrasada em comparação com o que seria expectável.
“A razão principal pela qual a Europa está atrasada não é devido à Covid-19 ou a questões de segurança, mas tem havido menos procura por maiores velocidades de acesso e menores latências do que nos EUA e na Ásia”, explicou o analista.
De recordar que o leilão da rede 5G em Portugal foi adiado devido ao impacto das restrições impostas para a mitigação da Covid-19 no País.