A garantia foi dada por Mark Zuckerberg, líder e fundador da Facebook, durante as seis horas da audiência levada a cabo na quarta-feira em plena Câmara dos Representantes dos EUA (os parlamentares eleitos pelos americanos): a criptomoeda Libra só avança se tiver a devida aprovação das autoridades americanas. E para que não restem sequer dúvidas sobre estas intenções, Zuckerberg frisou ainda que a Facebook está disposta a abandonar a Associação Libra, que começou por juntar 28 entidades em torno da futura moeda digital, caso esta entidade opte por avançar com a Libra sem a aprovação das autoridades governamentais dos EUA.
A ida ao Congresso dificilmente sairá da memória do famoso CEO. Segundo os vários órgãos de comunicação social, Zuckerberg foi simplesmente “grelhado” pelas questões e acusações dos representantes políticos que se juntaram no comité parlamentar para a audência: «Talvez acredite que está acima da lei, e tudo leva a crer que está a aumentar a dimensão da sua empresa, e que está disposto a passar por cima de qualquer pessoa, incluindo os seus concorrentes, mulheres, homens de cor, os vossos próprios clientes e até a nossa democracia, para que possa alcançar aquilo que quer. Na verdade, deu início a uma discussão sobre a necessidade de dividir o Facebook (em unidades de negócios, para evitar abusos de concorrência)», atirou Maxine Waters, parlamentar Democrata, citada pelo TechCruch, entre as várias questões contundentes a que Zuckerberg foi sujeito no dia de quarta-feira.
A BBC não hesita em lembrar que os parlamentares americanos que aproveitaram para recordar que Mark Zuckerberg já terá enganado, no passado, as autoridades americanas. Quanto aos planos para a criptomoeda, que recentemente registou baixas de relevo como a Visa, a MasterCard e a PayPal entre o grupo de 28 promotores da Associação Libra, o destaque mais pessimista prende-se com o receio manifestado pelos políticos do Congresso quanto à eventualidade de o novo sistema de transações poder, de alguma forma, ser usado para fomentar ou financiar atividades terroristas.
«O homem mais rico do mundo vem aqui e esconde-se atrás das pessoas mais pobres do mundo, e diz que é ele quem realmente está a tentar ajudar essas pessoas. Quem o senhor está a tentar ajudar são aquelas pessoas para quem o dólar não é uma boa moeda – os traficantes de drogas e os terroristas», argumentou Brad Sherman, parlamentar do Partido Democrata, citado pelo TechCrunch.
Apesar das investidas dos Representantes eleitos pelos americanos, Mark Zuckerberg deu mostras de não querer desistir do lançamento da criptomoeda. «Fico com a ideia de que, neste momento, não sou o mensageiro ideal para tudo isto. Enfrentámos várias questões nos últimos anos e tenho a certeza de que há muitas pessoas que gostariam que fosse qualquer entidade que não o Facebook a propor estas coisas (o lançamento da moeda Libra)».
Perante as questões dos congressistas norte-americanos, Zuckerberg reiterou o que já havia sido antecipado pelos gabinetes de comunicação junto dos “média” americanos no dia anterior. A Libra pretende ser da inovação americana, e deverá refletir as evoluções de várias moedas – mas terá nos dólares americanos a principal referência. O argumento de que possivelmente a China também deverá enveredar por uma criptomoeda em breve também foi usado durante a audiência.
O líder da Facebook também reiterou a intenção de lançar funcionalidades que asseguram o anonimato das carteiras de moedas digitais, mas admitiu a possibilidade de usar o sistema de identidade governamental para evitar abusos.
Apesar de apresentar a moeda digital como um produto made in america, Zuckerberg lembrou que não tem a capacidade ou poder para migrar a sede da Associação Libra da Suíça para os EUA. Mas reiterou que a Facebook está disposta a abandonar a Associação Libra se esta enveredar por caminhos opostos aos que são determinados pelos diferentes governos.
Também no campo político, Zuckerberg foi alvo de um cerrado inquérito: o líder da Facebook considerou como negativa a existência de campanhas de propaganda com mentiras e falsidades, mas solicitou às autoridades americanas que definam as regras – em vez de assumir essa responsabilidade em nome da Facebook. Também foi deixada a promessa de lançar o combate aos deepfakes na maior das redes sociais. E até a posição que assume sobre as vacinas, Mark Zuckerberg teve de comentar: «Não me parece que ninguém possa estar 100% confiante, mas na minha maneira de ver o consenso científico é que é importante que as pessoas sejam vacinadas».