Catarina Miranda prefere não explicar o que está no videoclipe. “Cabe ao espectador sentir o que quer sentir”, conta, em entrevista à Exame Informática. “Principalmente este videoclipe, cheio de simbolismos – cada símbolo além de ser forte, pode significar muito para a pessoa”. O vídeo em cima é o videoclipe oficial da música Cross Ave, do álbum de jazz Dentro da Janela, do músico João Mortágua – distinguido recentemente nos Play Prémios da Música Portuguesa, como o melhor álbum dentro deste género musical.
No videoclipe há uma janela que é uma constante – para que o espectador imagine o que está do lado de dentro, mas também do lado de fora –, há elementos mais abstratos e há um estilo visual muito característico. Os mais conhecedores do mundo da realidade virtual (RV) reconhecerão no vídeo os traços que tornaram a aplicação Tilt Brush, criada pela Google, numa das ferramentas mais populares deste segmento, mesmo quando a própria tecnologia de realidade virtual está ainda longe de ter uma grande popularidade.
Imagine o Tilt Brush como uma versão do Paint, do Windows, mas para realidade virtual, e que por isso permite ao utilizador fazer pinturas a três dimensões. É verdade que no vídeo o resultado final é mostrado apenas a duas dimensões, mas Catarina Miranda está a pensar exportar o videoclipe no formato original, para que os utilizadores com equipamentos de RV o possam experienciar na primeira pessoa – na prática, para que possam estar dentro da obra criada.
“A realidade virtual é o culminar de todas as artes, consegues pôr todo o tipo de arte num único espectro”, sublinha a artista de 30 anos e natural de Vila Real.
Quando João Mortágua, amigo de Catarina, lhe disse que fazia sentido ter um vídeo para o single do álbum, a artista decidiu oferecer-lhe um. Fechada em casa como consequência da pandemia, virou-se para a realidade virtual para dar um lado visível à música jazz. “Hoje em dia é muito fácil ter videoclipes para músicas de pop. [Imagens de] Um músico de jazz a tocar um solo de saxofone é aborrecido, [a realidade virtual] poderia ajudar a emancipar a cultura jazz em Portugal, que é onde acho que é mais precisa”.
A tecnologia não lhe era completamente desconhecida: Mariana já tinha usado o dispositivo Oculus Quest e também já tinha visto trabalhos de uma outra artista, Anna Zhilyaeva, que se tem dedicado à pintura tridimensional também na ferramenta TiltBrush. “Fiquei ‘ok, tenho que fazer isto, tenho que apostar nisto’. É uma maneira de elevar a minha arte a outra dimensão. Faço música, faço artes visuais, porque não juntar os dois?”, questionou-se. Cerca de uma semana depois, e também com a ajuda de outras ferramentas de edição multimédia, como o programa de modelação e animação Blender ou o programa de edição Adobe Premiere, o trabalho estava pronto.
Para Catarina Miranda, a realidade virtual permite-lhe juntar artes plásticas, videoarte e escultura. Não sendo este o primeiro vídeo que faz com recurso a ferramentas e ambientes de realidade virtual, é o primeiro a ser tornado público. Mais se seguirão, como revelou durante a entrevista, com o próxima criação a ser lançada em breve e a funcionar como um tributo à icónica banda Jafumega.