Já foi o Portal do Governo; hoje é uma página em branco
Basta uma visita ao site Netcraft para descobrir que o Portal do Governo procedeu recentemente a uma mudança de servidores Web. Este serviço disponibilizado na Net, que é uma referência para os gestores de sites de todo o mundo, refere ainda que, a 10 de fevereiro, o endereço www.governo.gov.pt passou a funcionar com um servidor de origem desconhecida.
Esta informação, por si só, não chega para confirmar que o Portal do Governo passou a usar um servidor IIS 7.5 da Microsoft – só quando se tenta entrar no site, que ainda se encontra inoperante, se descobre que o browser adiciona ao final do endereço a sigla “aspx”, que é referente às tecnologias .Net, da Microsoft.
Manuel da Costa Honorato, diretor do Centro de Gestão da Rede Informática do Governo (CEGER), nega qualquer relação entre a atual inoperância do portal que alberga todos os sites ministeriais e o facto de se ter mudado o servidor Web para o ISS 7.5 da Microsoft. «É verdade que houve uma mudança do servidor web para tecnologias Microsoft, mas este problema nada tem a ver com essa mudança, que foi feita há algum tempo. Não há tecnologias infalíveis, mas posso dizer que o problema não está no servidor web», garante o líder do CEGER quando inquirido pela Exame Informática.
Sem avançar pormenores, o líder da equipa que gere a rede do Governo refere que a origem do problema está num problema técnico que afeta transversalmente serviços usados no acesso ao repositório de dados do Portal. Bases de dados, DNS, e domain controllers são alguns dos serviços que terão sido afetados pela falha, que chegou mesmo a bloquear o correio eletrónico e outras ferramentas tecnológicas usadas por alguns departamentos do Governo.
O responsável do CEGER nega veemente que o Portal do Governo tenha sido alvo de ataques de hackers e reitera que nenhuma informação se perdeu, uma vez que os sistemas de cópia de segurança funcionaram como previsto. Costa Honorato acrescenta ainda que o Portal do Governo ficou inoperacional na noite de segunda-feira. O que contraria as notícias veiculadas ontem que indicavam que o endereço que agrega os ministérios portugueses deixou de funcionar no final da semana passada.
A culpa é da Microsoft?
A mudança do servidor web de Linux para Microsoft já gerou alguma polémica nas redes sociais. Mário Valente, líder da empresa de capital de risco Maverick, pioneiro da Internet em Portugal e ex-presidente do Instituto de Tecnologias da Informação da Justiça (ITIJ), não tem dúvidas de que a mudança para as tecnologias Microsoft é a “culpada” pela atual inoperância do Portal do Governo. «O sistema antes funcionava. Em janeiro ou fevereiro houve uma mudança de Linux para Microsoft. Agora houve uma falha e a tecnologia usada atualmente não permite uma recuperação rápida do Portal do Governo. Estes são os factos», alerta Mário Valente.
Manuel da Costa Honorato reitera que «o Portal do Governo dispõe de sistema de redundância, mas este sistema de redundância não pode superar os problemas que agora estão a afetar o Portal do Governo». Questionado sobre se o sistema de redundância não deveria poder superar esses problemas, o responsável do CEGER lembra que nenhum sistema está livre de bugs e falhas e que «até o site da Casa Branca já esteve mais de um dia sem funcionar devido a falhas».
Independentemente da existência ou não de falhas, Mário Valente critica a mudança de servidor Web: «Sempre que há mudança de Governo, há mudança de pessoas e responsáveis, e isso é legítimo. Agora o que não é legítimo é que se façam mudanças de tecnologias, porque as tecnologias são apolíticas. E se um sistema estava a funcionar antes e não tinha dado problemas, nada justifica que, na época de contenção em que vivemos, se mude para outro sistema, porque este processo terá sempre custos relacionados com pessoal e tecnologias».
À hora em que este texto foi escrito o Portal do Governo continuava a apresentar apenas uma página em branco. Manuel da Costa Honorato não quer adiantar um data para a reposição do sistema mas garante que é para «muito em breve».