A Google tem apostado forte no mercado dos smartphones com a linha de dispositivos Pixel. Este ano, com o lançamento dos modelos Pixel 9 e a integração de ainda mais funcionalidades de Inteligência Artificial, os smartphones têm sido considerados por muitos (incluindo nós) como um dos melhores do mercado nesta área. Elogios que, num mercado que conta com nomes como Apple, Samsung, Huawei e Xiaomi, só são conseguidos por mérito próprio.
Michael Specht é uma das pessoas que tem estado nos bastidores a fazer com que, geração após geração, as capacidades e qualidades fotográficas dos Google Pixel sejam cada vez mais reconhecidas. Gestor de produto das câmaras dos Pixel desde 2021, este entusiasta da fotografia desde tenra idade, que vive no estado da Geórgia, EUA, explica-nos em entrevista os ‘segredos’ sobre o desenvolvimento da gigante norte-americana na área da fotografia e a evolução que tem sido feita ao longo dos anos.
Qual é o seu papel no desenvolvimento das câmaras dos smartphones Pixel?
Sou gestor de produto na equipa. O que isso significa é que eu ajudo em tudo, desde o planeamento e a visão de onde queremos que a nossa tecnologia esteja daqui a três, quatro, cinco anos. Olho para o nosso pipeline (conjunto de etapas até se atingir o objetivo final) de desenvolvimento futuro e para o conjunto atual de funcionalidades e para aquilo que queremos lançar. E isto não sou só eu, tenho uma equipa mais alargada, mas, no final, o meu papel na equipa é ser o responsável pela qualidade de imagem e vídeo. Supervisiono todo o nosso desenvolvimento a partir da perspetiva do produto, garantindo que estamos a desenvolver as funcionalidades certas, a fazer os compromissos certos para os nossos clientes, a resolver os problemas dos clientes e, no fim, a entregar produtos e funcionalidades de alta qualidade na área da fotografia para os nossos clientes.
A comunidade tecnológica elogia muito as câmaras do Pixel 9 Pro e coloca este smartphone ao nível dos melhores do mercado. Tem a mesma opinião?
Acho que as nossas câmaras são muito boas, sim. Não posso comentar diretamente sobre os concorrentes e o que eles estão a fazer, estamos a esforçar-nos para entregar a melhor qualidade possível de imagem e vídeo para os nossos clientes. Sentimos que estamos a atingir esse objetivo.
Como acha que a inovação nas câmaras do Pixel vai moldar a área da fotografia móvel?
O Pixel foi o primeiro a trazer um pipeline de imagem computacional para a indústria, o primeiro a introduzir o incrível modo noturno em baixa luminosidade. O primeiro a introduzir o modo Astro. Ou seja, ano após ano, estamos a lançar tecnologias incríveis que impactam diretamente a qualidade de imagem e vídeo. Além disso, o mais importante para nós no Pixel é que não se trata apenas da qualidade base. Temos de estar sempre a desenvolver novas funcionalidades.
A qualidade de entrada, a qualidade base das nossas fotos, é muito importante porque, se não tiveres boa qualidade de entrada nas funcionalidades, não vais obter boa qualidade nas saídas das mesmas. Portanto, se houver algo como o modo “Add Me” [Adiciona-me, em português, por exemplo, ou o panorama, onde estamos a aproveitar toda a nossa pipeline HDR Plus de imagem, temos esta ideia de ‘qualidade base’ que precisamos de inovar todos os anos. Mas, além disso, temos de inovar nas funcionalidades que estão a resolver os problemas dos clientes e a trazer novas experiências para os nossos utilizadores.
Qual será o próximo passo para o Google melhorar ainda mais na fotografia?
Não posso comentar nada sobre futuros lançamentos, mas se olhares para o histórico, acho que voltamos àqueles dois pontos que mencionei antes: um é a qualidade base de imagem e vídeo, que vai ser sempre a nossa base e fundação, e continuaremos sempre a inovar nesse campo. O segundo é a criação de novas experiências. Se olharmos para o passado, podemos ver coisas como o “Add Me” que lançámos este ano. Isso resolve uma ‘dor’ do cliente. Imagina, estás de férias, não tens ninguém para tirar a fotografia e tens a família contigo. Queres captar essa imagem e com este modo consegues juntar todos na fotografia.
E depois, olhando para funcionalidades que já existem na indústria, como o panorama, por exemplo. O panorama já existe há muitos anos, mas nós pegámos nele e pensámos ‘como é que podemos dar uma nova vida a este modo?’, já que é um modo tão divertido e semelhante ao modo Astro, ou outros, em que é necessário algum tempo para captar. Queremos garantir que os clientes consigam captar imagens de altíssima qualidade nas suas experiências únicas.
Por exemplo, recentemente estive na Islândia com a minha família e as paisagens são vastas. Realmente precisas de algo como uma panorâmica para captar essa sensação de vastidão nas imagens. Para mim, aquela viagem pode ser uma vez na vida, por isso quero saber que posso pegar no meu Pixel, tirar fotos incríveis e ter a confiança de que vou obter a foto que quero, sem me preocupar com artefactos ou problemas de qualidade da câmara.
Há alguma razão específica para este design único das câmaras no Pixel?
Sim, claro. Por exemplo, olhamos para a barra no topo. Obviamente, a experiência de captação é algo importante. Para mim, alguém com um ‘background’ (conhecimento na área) em fotografia, e com pouco tempo para tirar fotos, quer estar entusiasmado por tirar a câmara e captar fotografias. Às vezes, esse entusiasmo vem do design da câmara e de como ela se ajusta na tua mão, sem que o design te atrapalhe quando a usas. Temos uma equipa de design totalmente dedicada que pensa em como construir o melhor produto, o mais bonito, e que os utilizadores fiquem entusiasmados para pegar e usar. Este design novo, com esta forma, é realmente icónico e acreditamos que a nossa equipa de design acertou em cheio.
Como é que o Google lida com o feedback dos utilizadores para implementar melhorias nas câmaras Pixel?
Claro que temos especialistas internos com os quais passamos muito tempo, a analisar e fotografar imagens, assim como a observar a qualidade das mesmas. Mas, no fim, estamos a construir um dispositivo e uma câmara para os nossos clientes. Nós, os fotógrafos, eu incluído, somos apenas um pequeno grupo de pessoas. Os clientes têm experiências completamente diferentes das nossas, em situações diferentes, por isso temos de ter isso em consideração no desenvolvimento.
Quando alguém tira uma foto e gosta ou não, ou tem um problema, pode reportar o feedback diretamente através do telefone e isso chega até nós. Eu leio muitas dessas críticas. Levamos isso muito a sério, porque, no final, estamos a construir câmaras para os nossos clientes. Não conseguimos fazer isso sem considerar a opinião dos utilizadores, e isso faz parte do nosso processo de desenvolvimento.
Com o aumento da fotografia computacional, como é que o Google garante que a câmara Pixel se destaca num mercado tão competitivo?
Acho que isso volta a uma das bases, que é a boa qualidade de imagem. Essa é a fundação de tudo. O mercado está a avançar nesse sentido, de forma geral, mas nós estamos a levar isso um passo mais longe com as funcionalidades únicas que desenvolvemos. E também vemos como, a partir da perspetiva de negócios, podemos aproveitar outras áreas do nosso negócio, como a nossa computação na nuvem, para usar coisas como o “Night Sight Video” e o “Video Boost”. Como empresa, tentamos aproveitar o que só a Google pode fazer para criar novas funcionalidades extremamente poderosas. E acho que conseguimos ser os primeiros a trazer algumas dessas funcionalidades para o mercado, utilizando a nossa perspetiva e recursos empresariais.
Como vê a evolução da Inteligência Artificial (IA) na pós-produção de imagens?
A IA não é um conceito novo. Já temos IA nas nossas pipelines de imagem e captação desde o Pixel 2. E a IA é uma grande parte da fotografia computacional em geral. À medida que começamos a usar IA Generativa, que é a vanguarda da IA, olhamos para ela como um recurso no nosso conjunto de ferramentas. O objetivo é que os nossos utilizadores possam captar imagens verdadeiramente autênticas, mas também dar-lhes ferramentas criativas e de pós-produção para editar essas imagens, sem precisarem de um curso de fotografia ou de 10.000 horas no Photoshop. Queremos fornecer essas ferramentas, normalmente reservadas para especialistas, a todos os utilizadores de forma simples e acessível.
Quais são os maiores desafios técnicos que enfrentam ao desenvolver a câmara de um Pixel?
Acho que um [desafio] que tocámos ligeiramente antes é a questão do tamanho. Se eu pegasse numa câmara profissional e a colocasse aqui na mesa, o primeiro ponto que notarias seria a diferença de tamanho. O maior desafio técnico, na minha opinião, é que queremos uma câmara incrível que caiba no teu bolso. Essas duas coisas são um pouco contra-intuitivas, porque quando pensas na ótica e no hardware de uma câmara, o que torna o hardware bom é o tamanho físico da câmara.
Portanto, estamos a trabalhar dentro de restrições físicas em termos de como aumentar a qualidade da imagem, mantendo o dispositivo no tamanho compacto que o cliente deseja. Temos de olhar para tudo, desde o silício (semicondutor que constitui os chips), que pode precisar de mais de cinco anos para ser desenvolvido, até à parte do hardware e do software, e tentar perceber como criar algo inovador que entregue qualidade e experiências fantásticas dentro desses limites.
Por fim, como é que o Google testa e desenvolve os protótipos com novas funcionalidades na câmara antes de as lançar ao público?
Damos início à pesquisa para identificar os problemas dos clientes. Depois, vemos que funcionalidades podemos criar para resolver esses problemas. Em seguida, desenhamos essas funcionalidades, pensando no hardware, no silício e na arquitetura necessária. Há muito trabalho cruzado entre as várias equipas da Google para criar funcionalidades novas, e depois dedicamos muito tempo a testar, captar imagens, ajustar e aperfeiçoar. Não se trata apenas da imagem final, mas da experiência completa do utilizador. Pensamos em como os diferentes utilizadores vão usar as funcionalidades no seu dia-a-dia.
Astrofotografia no Observatório Dark Sky Alqueva
A Exame Informática, a convite da Google, viajou até ao Alentejo, mais precisamente ao Observatório Dark Sky Alqueva, um dos locais com melhores condições para fotografar estrelas em Portugal, para uma experiência de astrofotografia com o Google Pixel 9 Pro XL, utilizando o modo “Astro” que o smartphone disponibiliza. Este evento contou com a presença de Michael Specht, gestor de produto das câmaras da Google, e de Miguel Claro, um conceituado fotógrafo português na captura de imagens de objetos celestes.
Em baixo, deixamos uma imagem captada com o Pixel 9 Pro XL: