O Departamento Federal de Investigação dos EUA (FBI na sigla em inglês) anunciou ter conseguido desbloquear os dois iPhone associados ao tiroteio de Pensacola, no estado da Florida, que aconteceu em dezembro de 2019. Se o desenrolar dos acontecimentos lhe parece familiar, há uma razão para isso: esta é a segunda vez que o FBI consegue aceder aos smartphones da Apple sem a ajuda da tecnológica e depois de lhe ter pedido ajuda – e de a ter pressionado publicamente – no acesso aos dispositivos.
Neste caso mais recente, o FBI foi capaz de aceder a um iPhone 5 e a um iPhone 7 Plus, dois equipamentos que estão associados ao autor de um tiroteio que vitimou três pessoas e feriu outras oito. De acordo com a publicação Wired, em vez de recorrer a uma ferramenta de uma empresa externa, tal como aconteceu no caso do atirador de San Bernardino, foi o próprio FBI que desenvolveu a ferramenta que permitiu ‘crackar’ os iPhone.
“Examinámos todos os parceiros e todas as empresas que pudessem ter uma solução para aceder a estes telefones. Nenhum tinha. Por isso criamo-la nós. Infelizmente a técnica que desenvolvemos não é uma solução para o nosso problema maior com a Apple. É uma aplicação bem limitada”, disse Cristopher Wray, diretor do FBI, numa conferência de imprensa nesta segunda-feira.
Apesar de não ter revelado como conseguiu aceder aos equipamentos, a força de investigação e segurança americana continua a pressionar a tecnológica para que crie uma porta de entrada (backdoor) nos equipamentos que permita às autoridades acederem aos dados dos equipamentos. “Não há razão para que empresas como a Apple não consigam desenhar os produtos de consumo e aplicações por forma a permitir acessos autorizados pelo tribunal às forças de segurança, enquanto mantêm altos níveis de segurança de dados”, atirou o procurador-geral norte-americano William Barr na mesma conferência de imprensa.
“É por levarmos tão a sério a nossa responsabilidade na segurança nacional que não acreditamos na criação de uma backdoor – uma que vai tornar todos os dispositivos vulneráveis a pessoas mal intencionadas que ameaçam a segurança nacional e a segurança dos dados dos nossos clientes. Não existe tal coisa como uma backdoor só para os bons da fita e o povo americano não tem de escolher entre uma encriptação enfraquecida e investigações eficazes”, disse a Apple em resposta ao caso.
Mas o FBI já não usa apenas a ‘cartada’ da necessidade de haver backdoors nos equipamentos para acelerar as investigações – agora também coloca na Apple o peso e custo do desenrolar das investigações. “O atraso no acesso a estes dispositivos não desviou apenas pessoas do nosso corpo de outros trabalhos importantes. Também dificultou seriamente esta investigação”, considerou o líder do FBI. De salientar que a Apple colaborou com a investigação do caso do atirador de Pensacola, fornecendo informações relacionadas com a conta de iCloud do principal suspeito do crime.
Apesar de já ter conseguido por duas vezes aceder a equipamentos Apple bloqueados sem a ajuda da tecnológica, o FBI promete escalar o braço de ferro contra as grandes tecnológicas. “Os desenvolvimentos deste caso demonstram a necessidade de uma solução legislativa”, atirou William Barr.
De recordar que recentemente a Signal, que é considerada como uma das mais seguras plataformas de comunicação, ameaçou sair dos EUA se um novo projeto de lei limitar a encriptação das mensagens.