A prática comum na ciência climática é usar os valores do período de 1850 a 1900 como referência das temperaturas para avaliar o ritmo do aquecimento global. Com essa base, as Nações Unidas estimam que o planeta aqueceu 1,3 graus centígrados desde aí e alertam que ultrapassar a barreira dos 1,5 graus pode trazer consequências desastrosas. Agora, Andrew Jarvis, da Universidade de Lancaster, liderou uma equipa que analisou a temperatura do planeta antes de 1700, recorrendo a bolhas de carbono capturadas no gelo na Antártica e chegou a um número mais alarmante: 1,49 graus centígrados.
A utilização de valores de 1850 a 1900 justifica-se pois, antes dessa altura, os dados e medições registadas são pouco consistentes. “Sabemos que houve aquecimento já nas estimativas de 1850 a 1900 simplesmente porque esse não é o início da Revolução industrial”, afirma Jarvis, citado pelo website Interesting Engineering.
As amostras analisadas pela equipa foram recolhidas na Law Dome no leste da Antártica e permitem um novo enquadramento do aquecimento global. Os investigadores mediram os níveis de dióxido de carbono capturado nas bolhas de ar e que correspondem a diferentes alturas, desde os anos 1300 até aos 1700. “Depois comparamos esses dados com as medições atuais de concentração, feitas desde 1850… Formamos uma linha quase perfeita de continuidade entre o núcleo do gelo e as observações de CO2”, explica Jarvis. A abordagem permite estimar as alterações da temperatura desde antes da Revolução Industrial e fornece um novo ponto de comparação. Os dados mostram que, se definirmos o início da análise em 1700, o planeta aqueceu 1,49 graus e, se aplicarmos o ponto de início em 1850, chegamos aos mesmos 1,3 graus que as Nações Unidas usam como base para criar a política climática atualmente em vigor.
A base revista sugere que a necessidade de acelerar a descarbonização é ainda mais urgente. Piers Forster, físico climático da Universidade de Leeds que também colaborou no estudo, enfatiza que “[o aquecimento de 1,5 graus] deve servir de toque de alerta para os países realmente acelerarem a descarbonização e apoiarem-se uns aos outros nesta meta”. Embora o ponto de viragem possa ser difícil de prever, qualquer aumento incremental nas temperaturas globais leva a um aumento dos riscos.