Estabelecido em 2007, o programa europeu de financiamento da ciência do Conselho Europeu de Investigação (ERC) continua a ser um dos mais desejados – e competitivos. Esta semana anunciou-se mais uma ronda de financiamento, na categoria Starting Grants, ou Bolsa de Iniciação, atribuído a investigadores que estão a iniciar uma carreira autónoma, com grupo próprio.
No lote agora contemplado foram selecionados 400 cientistas a trabalhar na Europa, num total de bolsas de 628 milhões de euros, em todas as áreas da Ciência.
Em Portugal foram financiados quatro projetos, com bolsas que oscilam entre os 1,5 e os 2,5 milhões. Inês Pereira, investigadora no Centro de Geociências do Departamento de Ciências da Terra (DCT) da Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra (FCTUC), submeteu o projeto FINGER-PT, focado na tectónica de placas. Com os 2,5 milhões de euros que lhe foram atribuídos, a cientista espera, a partir de janeiro, desenvolver e testar novas ferramentas que permitam perceber quando se iniciou e como evoluiu ao longo do tempo o movimento das placas que formam o planeta Terra. Porque «apesar dos grandes esforços para compreender a evolução da tectónica de placas, ainda não sabemos exatamente quando é que esta incrível dinâmica começou a operar. Apenas sabemos que quando a Terra se formou há cerca de 4570 milhões de anos ela não existia e, hoje em dia, pelo menos desde há 1000 milhões de anos, existe», diz Inês Pereira, em comunicado enviado pela FCTUC.
Os outros contemplados foram Carlos Minutti, da Fundação Champalimaud, que irá tentar perceber o funcionamento e o desenvolvimento de células associadas ao início da resposta do sistema imunitário a agentes patogénicos e a tumores. Giulia Ghedini, do Instituto Gulbenkian de Ciência, quer compreender as dinâmicas comunitárias no fitoplâncton marinho e Ilana Gabanyi, também do mesmo Instituto em Oeiras, irá estudar a interação entre a população de bactérias e vírus do intestino, chamada microbiota, e os neurónios, tentando esclarecer de que forma ocorre esta comunicação.
Fernando Pascoal dos Santos é um dos três investigadores portugueses a trabalhar fora do País, a integrar o lote de 400. Mestre e doutorado pelo Instituto Superior Técnico em Engenharia Informática e de Computadores e atualmente a lecionar na Universidade de Amsterdão, Países Baixos, pretende com o projeto RE-LINK analisar os algoritmos das redes sociais responsáveis pela recomendação de novas ligações – sugestões de amizade ou de adesão a grupos. O investigador, que também passou pela Universidade de Princeton, EUA, vai estudar processos como a tomada de decisão, o altruísmo, a recompensa. Tudo por meio de simulações computacionais, num trabalho que será a continuação do seu doutoramento. “O meu objetivo é perceber de que forma é que os algoritmos afetam a capacidade de cooperação entre os indivíduos”, resume.
Os outros dois investigadores são Diana Pinheiro, do Instituto de Investigação de Patologia Molecular em Viena e com um percurso doutoral no ICBAS (Universidade do Porto), com um projeto na área do desenvolvimento embrionário, Ana Gomes, que passou pelo iMM e Universidade de Lisboa, e atualmente está na Universidade de Montpellier e CNRS, França, que estudará o ciclo de vida do parasita da malária.
Este ciclo de financiamento tem a duração de cinco anos e as verbas atribuídas são destinadas a contratar uma equipa de trabalho, adquirir equipamento, permitindo que os investigadores se estabeleçam de forma autónoma.